O ônibus elétrico que começou a circular em Salvador, nesta terça-feira (16), que encantou e gerou resenhas entre soteropolitanos, pode até ser uma novidade na Bahia, mas já é uma realidade em outras cidades, inclusive do Brasil. Pelo menos seis municípios brasileiros e mais de dez países usam desse meio de transporte.
O gerente de pós-venda da BYD, empresa Chinesa dona do modelo que está sendo testado em Salvador, André Perandin, contou que existem ônibus elétricos em operação em Brasília (DF), Santos (SP), Bauru (SP) e Volta Redonda (RJ). Em Campinas (SP), 11 veículos entraram em funcionamento este ano, e em São Paulo (SP) serão 15 até o final de agosto.
No cenário mundial os ônibus elétricos também estão ganhando mais espaço. Na América Latina, a BYD atua em quatro países, além do Brasil. O Chile tem 102 carros da empresa em operação e outros 180 são aguardados até o final do ano. Na Colômbia são 56, na Argentina 20, e no Equador 12 veículos.
“Os ônibus, hoje, estão no Euro 5, uma legislação de emissão de gases, e a próxima etapa é o Euro 6, que já existe na Europa e começa a ter também em alguns países da América Latina. Não existe Euro 7, o próximo passo é obrigatoriamente elétrico, porque a tecnologia de combustão não consegue atingir os níveis proposto. Essa é a grande vantagem (do carro elétrico), a energia limpa, com emissão de 0% de poluentes”, afirmou.
A China lidera com 11 mil unidades, mas também existem ônibus elétricos nos EUA, Inglaterra, Espanha, Portugal, e Hungria. Na Índia, serão 1 mil veículos até o final de 2020. “Tenho 24 anos de experiência com transporte e afirmo que esse um ônibus muito bem resolvido para as necessidades dos passageiros”, garante Paradin.
Meio ambiente
Para os especialistas o fato de não emitir gases poluentes é a principal vantagem do sistema elétrico de transporte, mas não é a única. A redução na quantidade de componentes mecânicos reduz os custos com a manutenção, além de existir mais conforto que o modelo de combustão.
O presidente da Associação Baiana de Medicina de Tráfego (Abamet), Antonio Meira, considera que o novo modelo impacta também na qualidade da saúde de passageiros e rodoviários. O fato desses carros não emitirem ruídos intensos, por exemplo, é outro ponto positivo para o especialista.
“Os veículos a diesel têm um barulho maior e isso interfere na qualidade de vida e de trabalho do condutor que está naquela função todos os dias. Alguns dos problemas que percebemos no motorista profissional estão relacionados a esses ruídos e a postura. Melhorar a intensidade desses ruídos é, com certeza, um ponto positivo”, afirmou.
Ele destacou também a altura desses coletivos, mais baixos, o que diminui a quantidade de degraus e aproxima o embarque e desembarque da calçada. “Essas tecnologias e avanços que poluem menos, melhoram o transporte coletivo e é isso o que a gente preconiza, além do deslocamento seguro”, afirmou.
O teste com o ônibus elétrico é uma inciativa da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) e do consórcio Integra Plataforma, e vai durar 30 dias. Nesse período, o carro vai circular, de segunda à sexta-feira, nas linhas: Estação Pirajá/Ribeira, Pirajá/Barra, Pirajá/Pituba e Paripe/Aeroporto, sendo uma por semana. Ele tem capacidade para rodar até 250 km e leva 4h para ficar totalmente carregado. Recarga é feita através de uma tomada instalada da garagem, que liga o cabo ao ônibus.
Interior do ônibus elétrico. Crédito: Mauro Akin Nassor/ CORREIO (Reprodução)
Tendência
Para o mestre em Engenharia de Energia e coordenador do curso de Engenharia Ambiental da FTC, Ricardo Magalhães, a substituição os veículos a combustão pelos elétricos é um caminho sem volta.
“Cada dia mais as montadoras estão produzindo carros híbridos e elétricos. Isso em todo o mundo. Existe até uma corrida de carros, a Fórmula I, com veículos apenas elétricos. Essa mudança é uma tendência. São diversas as vantagens desse sistema. A questão não é se o carro elétrico é uma tecnologia que vai dominar os veículos, mas quando”, afirmou.
A prefeitura informou que, caso o modelo passe no teste, ele será usado no BRT (Bus Rapid Transit) – sistema rápido de transporte público que, em Salvador, vai ligar a Lapa ao Iguatemi – uma escolha correta, segundo o engenheiro. “O BRT, em termos de mobilidade urbana e de meio ambiente, é extremamente positivo, e unir isso ao que tem de melhor na propulsão elétrica de veículos é muito interessante”, disse.
Magalhães contou que o desafio é consegui ampliar a capacidade de percurso dos carros elétricos e, ao mesmo tempo, reduzir o tempo de recarga desses veículos. Ele explicou que mesmo exigindo mais das geradoras de energia do país, os veículos elétricos ainda são mais vantajosos que os de combustão.
“O grande tema proposto hoje no mundo é como reduzir a emissão de gases de efeito estufa. A eletricidade também emite gases na geração da energia, a quantidade depende de país para país, mas no Brasil essa emissão é muito baixa porque temos poucas termoelétricas, a maioria são hidrelétricas. Emissão quase 0%, por isso, é muito positiva essa troca”, afirmou.
Sustentabilidade
O Consórcio Integra Plataforma informou que monitora a emissão de gases pelos ônibus da empresa a cada três meses. Na prática, uma empresa especializada vai até as garagens a cada trimestre e instala um equipamento nas descargas dos veículos para medir a quantidade de CO2 lançado na atmosfera.
O chamado teste de opacidade identifica os carros que estão emitindo gases acima da média e aponta quais deles precisa passar por manutenção. A última aplicação da avaliação foi em maio.
Outra medida adotada pela empresa foi a telemetria, tecnologia que permite a medição e comunicação de informações entre a empresa e os motoristas. O objetivo é monitorar se os condutores estão praticando as manobrar ensinadas para reduzir a poluição.
Para o diretor de Comunicação do Sindicato dos Rodoviários, Daniel Mota, a mudança é bem-vinda, mas precisa ser pensada com cuidado. “O ônibus elétrico é uma ação futurista, mas positiva e o meio ambiente agradece. Precisamos ver os detalhes de como vai funcionar esse ônibus, ver o experimento primeiro, mas no primeiro momento soa como algo importante para a humanidade porque não vai emitir monóxido de carbono e vamos poder respirar melhor”, afirmou.
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