A dura rotina dos entregadores de aplicativos pelas ruas de SP

Dormir na rua e pedalar 12h por dia... Este o quadro revelado pela reportagem da BBC, que durante uma semana entrevistou dezenas de entregadores de bicicleta na capital

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Fonte: BBC News Brasil  |  Autor: Leandro Machado  |  Postado em: 22 de maio de 2019

Na Paulista, horário de pico para o ciclista começ

Na Paulista, horário de pico para o ciclista começa às 19h

créditos: Lincon Zarbietti


Um deles explica ao repórter da BBC, Leandro Machado: "Dou entrevista para você, sim, parça. Ainda está suave, porque o bagulho aqui só estrala às 7 horas da noite. Então, nessa hora, começa a pingar pedidos e eu não paro mais".

 

O grande relógio no Conjunto Nacional, no alto da avenida Paulista, mostra que faltam 36 minutos para esse ponto de inflexão diária para os aplicativos de entrega em São Paulo.

 

Em outras palavras: o horário em que milhares de pessoas chegam em casa, olham a geladeira, desistem de cozinhar e resolvem pedir comida por alguma das plataformas disponíveis.

 

Os entregadores aguardam esse momento do rush sentados em calçadas próximas a shopping centers, restaurantes ou supermercados. Então, por volta das 19h, começam a pipocar os pedidos nos celulares: os jovens pegam as mochilas, as bicicletas ou motos e partem para a correria da noite.

 

Durante uma semana, a BBC News Brasil conversou com dezenas de trabalhadores do setor em três pontos de concentração deles na cidade: avenida Paulista e os bairros de Pinheiros e Higienópolis - locais com grande oferta de comércio.

 

Os entregadores, no entanto, não moram nesses bairros. Vivem principalmente na periferia ou em cidades da Grande São Paulo. Para chegar ao trabalho, percorrem até 30 km - às vezes, pedalando.

 

Crise e desemprego

Em um momento de crise econômica e alta do desemprego, os aplicativos de serviços como Uber, iFood, 99 e Rappi atraem desempregados e pessoas que têm dificuldades para se inserir no mercado de trabalho com a perspectiva de obter alguma renda.

 

No mês passado, um estudo do Instituto Locomotiva, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, apontou que quatro milhões de pessoas trabalham para essas plataformas no Brasil hoje - 17 mihões usam os serviços regularmente.

 

O aplicativo colombiano Rappi, por exemplo, começou a operar no país em julho do ano passado e hoje vê seu número de entregas aumentar 30% ao mês.

 

Por outro lado, o crescimento do negócio vem acompanhado de críticas. Especialistas afirmam que as empresas ajudam a precarizar o trabalho, pois elas não costumam seguir as leis trabalhistas. Seus colaboradores fazem jornadas de trabalho muito mais longas que as oito horas previstas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), por exemplo.

 

'O paradoxo dos ciclistas'

Já o entregador que usa bicicleta, por sua vez, vive uma espécie de paradoxo: por mais que a tecnologia faça a roda do delivery girar, o trabalho dele depende essencialmente da força física. Quanto mais ele pedalar, quanto mais quilômetros percorrer pela cidade, maior será sua remuneração.

 

Por isso, os ciclistas ouvidos pela reportagem relataram fazer jornadas de mais de 12 horas diárias, trabalhar muitas vezes sem folgas e até dormir na rua para emendar um horário de pico no outro, sem voltar para casa.

 

Em média, eles conseguem uma renda mensal de R$ 2 mil, segundo relatos. As empresas não revelam dados sobre o perfil de seus colaboradores, mas, em uma semana de conversas, a reportagem constatou que grande parte pertence às classes mais baixas, mora em bairros periféricos e tem dificuldade para conseguir empregos no mercado formal.

 

'Uberização'

Pesquisa realizada pela Fundação Instituto Administração (FIA) e divulgada pela Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O) aponta que a idade média do entregador é de 29 anos - os números contemplam motoboys e ciclistas. A maioria (97,4%) é homem; 73% têm apenas o ensino médio completo, e 11,7% já concluíram ensino superior ou pós-graduação.

 

Clique aqui e leia a reportagem completa na página da BBC News, com os depoimentos de ciclistas entregadores.    

 

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