Estou em Colonia do Sacramento, fundada pelos portugueses na margem esquerda do Rio da Prata, há 330 anos. Trocou de mãos, entre portugueses e espanhóis, por cinco vezes. Por fim, pertenceu ao Império Brasileiro, como parte da Província Cisplatina, até que na Batalha de Ituzaingó, de 1827, as forcas brasileiras foram derrotadas, abrindo caminho para a independência do Uruguai, em 1828. Conto tudo isso para mostrar que o país em que passo férias é um pouco luso-brasileiro. Na cultura, na mescla racial de índios, com europeus e africanos (trazidos como escravos pelos portugueses). Com todas as semelhanças, a educação, no entanto, criou diferenças.
Ouvi o recepcionista do hotel responder à pergunta de uma hóspede idosa: “A senhora pode caminhar tranquila pela cidade, não há perigo, a segurança é absoluta”. Foi o que sentimos, na noite de Montevidéu e aqui em Colonia. Como brasiliense, sempre me orgulhei do respeito que temos pela faixa de pedestre. Aqui, no entanto, encontrei muito mais.
O pedestre não precisa pedir licença para usar sua faixa, com o abominável “sinal de vida”, inventado em Brasília e copiado por algumas cidades brasileiras. No Uruguai, o pedestre só precisa se dirigir à faixa e os veículos param imediatamente. Aluguei um carro e descobri que o acostamento uruguaio tem camada de asfalto mais espessa do que boa parte das estradas brasileiras. E não há buracos.
A História do Uruguai é condescendente com os portugueses. Conta que os espanhóis sempre quiseram impor-se pelas armas; os portugueses, pelo estabelecimento de comércio, igrejas, postos militares.
Aonde quer que se vá, pode-se ouvir o melhor da música brasileira: Jobim, Vinícius, Caetano, Toquinho... gente que esteve no auge do talento durante o período militar. Por falar nisso, nós, brasileiros de espírito luso, não suprimimos das galerias de presidentes os generais – todos eleitos pelo Congresso. Aqui, no Museu da República, na antiga Casa de Gobierno, está omitida a foto do presidente Bordaberry, eleito pelo povo, mas que fechou o Congresso para enfraquecer a tentativa tupamara de tomar o poder.
Com menos belezas naturais do que o Brasil, o Uruguai, no entanto, sabe atrair turistas desde sempre. Punta del Este é como um lugar charmoso da costa mediterrânea francesa. As belíssimas casas do litoral atlântico uruguaio não precisam de muros nem de portões. E por todo o país há o charme de cidades com poucos edifícios altos e muito arborizadas.
Respira-se ar puro e vê-se sempre o céu. Tudo isso por causa da Educacão, que hoje é a prioridade máxima do presidente Mujica. Aliás, mesmo sendo um socialista e ex-tupamaro, segundo dizem está às voltas com os sindicatos que querem atrapalhar sua política de educacão, alegando que é semelhante à chilena. Nada como assumir o poder para descobrir o outro lado da realidade...