Desativar o elevado João Goulart (região central de São Paulo), conhecido como Minhocão, para veículos pode diminuir pela metade a percepção de ruído para a vizinhança, segundo levantamento da Associação Brasileira para a Qualidade Acústica (ProAcústica).
O estudo estima que a redução pode ser de até 10 dB (decibéis) em prédios que estão de frente para o elevado, principalmente em andares acima do Minhocão –já que os mais baixos continuariam afetados pelo trânsito da r. Amaral Gurgel.
De acordo com a ProAcústica, em termos de sensação para o ser humano, 10 dB a menos equivalem a reduzir pela metade o volume sonoro.
Com o viaduto aberto para veículos, os níveis sonoros nos edifícios variam entre 69 dB e 76 dB de dia, algo próximo ao som de um aspirador de pó ligado. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o nível de ruído recomendável para a audição é de até 50 dB.
Parque Minhocão
A prefeitura anunciou em fevereiro que vai implantar o primeiro trecho do Parque Minhocão, dando início à desativação do elevado para veículos. O estudo da ProAcústica, entretanto, não considera os ruídos que o parque traria.
"Isso depende muito de como vão fazer o parque, se vão usar algum tipo de absorção [acústica]", disse a gerente de atividades técnicas da ProAcústica, Priscila Wunderlich.
A estimativa é parte do Mapa de Ruído Urbano, realizado pela ProAcústica e que será lançado nesta quarta-feira (24), Dia Internacional de Conscientização sobre o Ruído.
O mapa cobre a área da Operação Urbana Centro, de cerca de 6,6 km². Inclui os chamados Centro Velho e Centro Novo e parte de bairros históricos como Glicério, Brás, Bexiga e Vila Buarque.
Segundo o vice-presidente de atividades técnicas da ProAcústica, Marcos Holtz, o mapa mostra os ruídos ferroviários e rodoviários. Barulhos pontuais de obras ou de bares, portanto, não são medidos.
Segundo Holtz, cerca de 90% das pessoas que sofrem com a poluição sonora são afetadas pelo ruído rodoviário. "Ele é de longe o mais importante para políticas públicas."
No mapa, áreas próximas às avenidas 9 de Julho, 23 de Maio e do Estado aparecem com altos níveis de poluição sonora, superiores a 75 dB durante o dia. Outro foco é a Linha 3-Vermelha do Metrô, entre as estações Brás e Pedro 2°.
O estudo foi feito com base em simulações acústicas computacionais, que levam em conta dados de trânsito da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e a frequência de trens do metrô. Os pesquisadores também avaliam a qualidade do asfalto –quanto mais buracos, por exemplo, mais barulho. As estimativas depois são verificadas e calibradas de acordo com medições, feitas em 62 pontos diferentes.
Segundo Holtz, o mapa é uma ferramenta de planejamento urbano, porque mostra as áreas prioritárias para um plano de ação.
"Um bairro residencial aceita menos poluição sonora. Cruzando dados, descobrimos as zonas de atenção, onde há muita gente morando e muito ruído", afirma.
Entre as medidas para mitigar a poluição sonora, Holtz cita modificações na circulação de vias, melhorias no asfalto, construção de barreiras acústicas e redução da velocidade permitida para veículos.
"Fazer ciclovias e incentivar o uso de bicicletas e patinetes também ajuda, porque são muito mais silenciosos."
A poluição sonora está associada a diversos problemas de saúde, como alterações hormonais, perturbação do sono, estresse, pressão alta, infarto e diabetes.
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