Goiânia: cidade planejada, mas sem manutenção em vias e calçadas

Apesar das calçadas largas e planas, a caminhabilidade na capital de Goiás é dificultada, sobretudo aos de baixa mobilidade, pela falta de conservação e pelo trânsito

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Regina Rocha/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 15 de abril de 2019

Carros parados na calçada, infração comum em Goiân

Carros parados na calçada, infração comum em Goiânia

créditos: Poliana Lins

 

Planejada e situada sobre os terrenos suaves do planalto central, a cidade de Goiânia (GO) favorece a caminhabilidade... Ou, pelo menos a caminhabilidade de quem não tem alguma restrição de mobilidade, idosos ou pessoas com deficência física, apressa-se em dizer a pesquisadora Poliana Batista Rodrigues Lins, uma das avaliadoras* da Campanha Calçadas do Brasil 2019 na capital goiana.

 

Poliana é mestranda do programa de pós-graduação Projeto e Cidade, da Universidade Federal de Goiás. Ela conta que o pedestre realmente não enfrentará altos e baixos na área central, a mais movimentada de Goiânia e que concentra os fluxos do comércio, já que é uma região com calçadas largas e muitas delas arborizadas, resultado do projeto original da cidade. "Não se vê degraus nos passeios, como ocorre em outras cidades do país", revela. E apenas no setor Campinas, a parte mais antiga do centro (e que foi município no passado) as calçadas são mais estreitas. 

 

No bairro Campinas,  o mais antigo da cidade, cadeirante é prejudicado por ambulantes na calçada. Foto: Poliana Lins 

 

Mas, embora a cidade tenha calçadas acessíveis, a necessidade de uma manutenção dessa infraestrutura é premente, e isso afeta principalmente a parcela da população que têm mobilidade reduzida. "O descaso na manutenção das calçadas complica muito o trajeto do pedestre", revela a pesquisadora. Pisos deteriorados ou com falhas, faixas de travessia apagadas, falta de piso tátil, rampas estreitas ou semidestruídas, tudo isso traz um ar de abandono aos passeios públicos de Goiânia.

 

Terminal Derbo, um dos pontos avaliados: piso quebrado e rampa fora das normas. Foto: Poliana Lins

 

Trânsito pesado

Outro fator que atrapalha a caminhada na cidade é o trânsito, diz ela. Segundo uma pesquisa de 2018 da Confederação Nacional dos Municípios, Goiânia tem a sexta maior frota do país (com média de um carro para 2,42 habitantes) e a quarta em número de motos. As motos, especialmente, passam velozes e incomodam muito a vida de quem anda na cidade, diz Poliana.

 

Nesse cenário pouco amistoso ao pedestre, algo muito comum é ver carros e motos estacionados sobre as calçadas. "Em todas as avaliações que fizemos na cidade, vimos a irresponsabilidade de motoristas que não se intimidam e param sobre o passeio. Não bastasse isso, é comum ultrapassarem os limites de velocidade, mesmo no centro, onde a máxima permitida é 40 km/h". Ela conclui: "Essa situação, associada à falta de fiscalização do gestor público, se torna uma dificuldade a mais à caminhabilidade em Goiânia". 

 

Calçadas do Brasil 

Para as avaliações da Campanha Calçadas do Brasil 2019, a rota escolhida pelas colaboradoras do Mobilize partiu de um importante corredor de BRT, o Eixo Anhanguera - que liga os extremos leste e oeste da cidade -, e rumou para o centro. Foram avaliados os caminhos do pedestre ao longo da Avenida Anhanguera, onde ficam os principais terminais de integração do transporte público - os terminais Dergo, da Praça A e Praça da Bíblia. 

 

No percurso, que passou ainda por duas escolas e o Fórum, entre outros equipamentos públicos - um total de cerca de 40 lugares avaliados -, a pesquisadora verificou a qualidade da infraestrutura oferecida à população goiana. 

 

Essa experiência prática, mudou a percepção de Poliana, mesmo já sendo ela uma ciclista. Ela se deu conta que, ao sair às ruas e realizar a avaliações, seu olhar se tornou mais crítico às necessidades do transporte ativo: "Percebi por exemplo que elementos de acessibilidade, como rampas e piso tátil, além de não serem fáceis de encontrar em nossa cidade, muitas vezes são mal executados. O Eixo Anhanguera é o local onde pude ver mais rampas acessíveis; mas, ao migrar para o centro, elas simplesmente desaparecem", relata. 

 

Ruas com semáforo de pedestre também são algo raro em Goiânia: "No meu percurso, só vi esse tipo de semáforo em um único lugar, a Praça A", conta a universitária. 

 

Mesmo obras recentes apresentam problemas, afirma: "É o caso do Fórum, situado em pleno centro, perto do Bosque dos Buritis, onde o prédio todo foi reformado mas não se mexeu nadinha nas calçadas, como era de se esperar em uma obra pública". 

 

Em relação às rampas de acessibilidade, ela também observa que em geral são construídas fora das normas técnicas: "Caminhamos no sentido oeste do Eixo Anhanguera, e chegamos ao Zoológico. Lá, por exemplo, há uma rampa que, além de íngreme, mede só 80 cm de largura; ou seja, uma pessoa em cadeira de rodas não passa", desabafa. 

   

Rampa totalmente fora da norma em frente ao Zoológico. Foto: Poliana Lins  

 

As avaliações da Campanha em Goiânia se concentraram na região central, já que, sendo uma cidade polinucleada, como explica Poliana, é onde se acha a maioria dos equipamentos públicos. Exceção é a sede da Prefeitura, construída em local afastado, próximo ao estádio Serra Dourada. "Não sei porque tão longe... Fica numa área de difícil acesso ao transporte público e, para chegar sem tanto transtorno, só mesmo se a pessoa for de carro..."        

 

Além de Poliana, a estudante de arquitetura da Mariana Machado dos Anjos também participou das avaliações da Campanha Calçadas do Brasil 2019 em Goiânia 

 

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Comentários

Fernando - 16 de Abril de 2019 às 10:20 Positivo 0 Negativo 0

Boa tarde, ótima matéria, conheço todos esses lugares, e é caótica a situação, principalmente nos terminais de ônibus do Eixo Anhanguera.

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