"Quase 90% das calçadas de Porto Velho estão fora da norma"

Quem traz esse dado preocupante são dois professores de arquitetura da capital rondonense, coordenadores locais da Campanha Calçadas do Brasil 2019

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Regina Rocha/Mobilize Brasil  |  Postado em: 18 de março de 2019

Vista aérea de Porto Velho (RO)

Vista aérea de Porto Velho: rio Madeira no horizonte

créditos: Pref. Porto Velho

Do norte do país, o Mobilize está recebendo apoio de duas faculdades de arquitetura da cidade de Porto Velho (RO) para as avaliações da Campanha Calçadas do Brasil. Conduzem as ações ali o professor do curso de arquitetura e urbanismo da Faculdade Uniron, Giovanni Bruno Souto Marini e, de outra frente, a arquiteta e urbanista Luciana Cristina Ramalhão, diretora de mobilidade da Secretaria Municipal de Trânsito, Mobilidade e Transporte e coordenadora do curso de arquitetura da Faculdade Centro Universitário São Lucas. 

 

Os dois pesquisadores são unânimes em afirmar que os problemas das calçadas na capital rondonense são muitos, e há tempos prejudicam a acessibilidade e o caminhar das pessoas por toda a cidade. Embora conhecidas do poder público, as situações irregulares persistem sem solução muitas vezes pela falta de aceitação da própria sociedade em regularizar seus passeios.

 

Para começar, diz Marini, "é possível dizer que quase 90% das calçadas de Porto Velho estão fora da norma técnica. Aqui não se obedece a um padrão, nem na largura, altura ou no tipo de piso utilizado...".

 

Calçadas ocupadas por rampa e escadaria em Porto Velho Foto: Arquivo Luciana Ramalhão

 

A situação piora quando se sai da área central em direção aos bairros mais periféricos, denuncia o professor: "Nos bairros, as calçadas geralmente nem são pavimentadas: é comum haver um espaço até bem grande entre o lote e a rua, e que muitas vezes permanece sem revestimento algum, na terra", desabafa.

 

Já nos trechos centrais da capital, o maior problema para a mobilidade a pé é de outro tipo, conta o professor: "Em nossa cidade, há muita resistência do segmento imobiliário em fazer as adaptações necessárias à regulamentação das calçadas dos condomínios. Isso, mesmo depois que a administração municipal notifica e multa o empreendimento."

 

Obstáculos e "rampas"
Por atuar na administração pública, Luciana Ramalhão conhece de perto esse problema. Ela conta que é comum, por exemplo, em áreas bem servidas da cidade, a construção de calçadas de empreendimentos de grande porte com obstáculos à passagem do pedestre e rebaixamentos exagerados na entrada das garagens.

 

"Temos também muitos casos de desalhinhamento de calçadas, o que resulta em quarteirões inteiros com passeios contínuos mas de dimensões as mais variadas", diz ela. No passado muitas vias foram abertas pela administração pública sem delimitação do meio-fio que divide o calçamento do espaço da rua, explica a arquiteta: "Isso gera hoje conflitos com a população, principalmente na hora em que o poder público chega para alargar uma via e depara com calçadas de dez, doze metros, sem limites claros. As pessoas simplesmente não sabem onde começa ou termina sua calçada".



 Calçada estreita ocupada por árvore Foto: Arquivo Luciana Ramalhão

 

A expectativa de Luciana é que os problemas comecem a ser resolvidos com a finalização em breve da revisão do plano de mobilidade urbana de Porto Velho, que está sendo feito junto com o plano diretor da cidade. "A prefeitura então terá mais verbas, com a liberação dos recursos federais, para equipar seu corpo técnico e pôr em andamento os quase 40 projetos viários já elaborados para a cidade", ressalta a técnica.

 

Calçadas do Brasil
Giovanni Marini é geógrafo de formação, com doutorado em Planejamento Urbano. Na faculdade em que leciona, conseguiu reunir cerca de 80 alunos dos oitavo e nono períodos para fazer o levantamento de calçadas da campanha.

 
Neste momento, o grupo já concluiu o mapeamento de mais de 50 locais, em todas as zonas da cidade. São edificações federais, estaduais e municipais como escolas, hospitais, postos de saúde, bibliotecas etc. Segundo ele, em uma semana ou dez dias será possível realizar todas as avaliações, acredita. Além da campanha, os resultados serão depois apresentados na Semana de Planejamento Urbano, realizada ao final de semestre de aulas.   

Também a arquiteta Luciana Ramalhão realizou reunião com cerca de 20 alunos da faculdade São Lucas inscritos para este trabalho. Segundo ela, foram discutidos na ocasião a metodologia da campanha e apresentados os materiais que servirão para apoiar o levantamento dos cerca de 30 locais que o grupo deve percorrer, sobretudo na área central da cidade. Os alunos já saíram a campo e a educadora prevê que os resultados sejam documentados até o final de março.     

 

A especialista em mobilidade da prefeitura conta que já havia iniciado no Centro Universitário São Lucas um laboratório de mobilidade ativa. E espera que as avaliações deste levantamento agora contribuam para que a população tome consciência de que "calçada não é só pavimento", e que deve trazer outras qualidades, como conforto, arborização, acessibilidade. "Estamos envolvidos em uma soma de esforços para conhecer melhor a realidade de Porto Velho. E queremos utilizar esta campanha como contribuição às políticas públicas que desenvolveremos na Secretaria de Mobilidade".

 

Veja (clique) o levantamento realizado por Luciana Ramalhão sobre a situação de calçadas em Porto Velho

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