Em Cuiabá (MT), o grupo de pesquisa Épura assumiu a tarefa de coordenar as atividades da Campanha Calçadas do Brasil. Leitora atenta do Mobilize Brasil e entusiasta da mobilidade ativa, a professora Doriane Azevedo levou a proposta para seus alunos, na Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). "Eles ficaram muito empolgados com a oportunidade de avaliar a caminhabilidade aqui em Cuiabá. E a ideia ajusta-se perfeitamente às pesquisas que desenvolvemos no Grupo de Pesquisa e Extensão - Estudos de Planejamento Urbano e Regional (Épura). Os alunos gostaram da estrutura de avaliação sugerida e, como tinhamos um bom tempo, aproveitamos para realizar uma discussão mais mais ampla sobre mobilidade e caminhabilidade", justificou Doriane.
Em 2011 e 2012, lembra ela, o Épura realizou um trabalho de levantamento de indicadores urbanos em todas as cidades da região metropolitana que inclui a capital e mais a vizinha Várzea Grande, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio do Leverger, além dos municípios de Acorizal, Barão de Melgaço, Chapada dos Guimarães, Jangada, Nobres, Nova Brasilândia, Planalto da Serra, Poconé e Rosário Oeste. "Nessa atividade os estudantes vivenciaram a experiência de caminhar em todas os municípios. Depois, ampliamos a análise para a região das Nascentes do Pantanal, Cáceres e Rondonópolis.
A Campanha
As atividades da Campanha Calçadas do Brasil foram iniciadas na semana passada, logo depois do Carnaval, com uma série de encontros: uma palestra sobre Mobilidade Urbana e a seleção preliminar dos locais a serem avaliados; e uma segunda palestra sobre Transporte Ativo e Caminhabilidade, com a leitura e análise do formulário de avaliação proposto pelo Mobilize. No sábado próximo (16), o grupo fará uma ação experimental para avaliar a caminhabilidade nos acessos ao Campus da UFMT, com a discussão das dúvidas existentes. Em seguida, em outra reunião, devem definir os locais a serem avaliados na cidade de Cuiabá. O trabalho de avaliação será realizado entre 16 e 30 de março, prevê Doriane Azevedo.
Veja a apresentação (clique) preparatória da Campanha Calçadas do Brasil em Cuiabá
Reunião preparatória: estudantes e professores de arquitetura selecionam locais para as avaliações
A cidade
Hoje a Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá reúne uma população estimada em 1.032.714 pessoas (IBGE/2018), das quais 608 mil vivem na capital e 282 mil em Várzea Grande. A capital, Cuiabá, tem sua história intimamente ligada ao ciclo bandeirista e à exploração de minérios. Não por acaso, uma das principais vias da cidade leva o nome de um bandeirante de Sorocaba (SP), Miguel Sutil de Oliveira, que descobriu ouro na região em 1772.
A povoação conheceu alguns picos de desenvolvimento, mas foi somente após a Guerra do Paraguai (1864-1870) que a vila se tornou um porto importante pela conexão com a bacia do Prata e a cidade de Buenos Aires, na Argentina. Mais tarde, com a construção das rodovias, nos anos 1960, a cidade experimentou um "ciclo de modernização", especialmente nos anos 1970, com um "ímpeto de destruição de tudo o que era considerado antigo", lamenta Doriane Azevedo.
Nesse período a infraestrutura urbana foi sendo adaptada para priorizar o tráfego motorizado, em detrimento de outros usos, como as calçadas e outros espaços para pedestres. "A Cuiabá de hoje é completamente diferente daquela que eu conheci na minha juventude, especialmente na área da mobilidade e em relação à paisagem urbana. O Centro da cidade foi totalmente descaracterizado, nas formas, conteúdo e diálogos com o entorno. E os novos parques já nasceram excludentes, no mínimo pela dificuldade de acesso", afirma a professora.
A coordenadora
Doriane Azevedo é arquiteta e urbanista formada em 1999 pela Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia da UFMT. É mestre em História e Fundamentos da Arquitetura, do Urbanismo e da Urbanização (2006) e doutora em Planejamento Urbano e Regional (2015) pela FAU/USP. Professora na UFMT, coordena o Grupo de Pesquisa ÉPURA ( Estudo de Planejamento Urbano e Regional). "Sou das poucas pessoas em Cuiabá que não têm carro. Caminho, uso o transporte público e pago todos os ônus dessa opção. Mas tenho que ser coerente, porque o nosso grupo de pesquisa sempre trabalhou para estimular a mobilidade urbana sustentável", resume a professora da UFMT.
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