O jornal Zero Hora divulgou ontem (27) uma curiosa mensagem do leitor Miguel Teixeira de Carvalho, de Brasília, na qual ele registra a sua inconformidade com o não aproveitamento da rede hidroviária natural disponível no Rio Grande do Sul.
Miguel faz referência ao Plano Hidroviário do Estado, concluído pelo Departamento Estadual de Portos, Rios e Canais (Deprec) em 1961. O Deprec foi criado em 1951 e funcionou até 1996, quando foi desmembrado dele o Porto de Rio Grande, criando-se, assim, a Superintendência do Porto do Rio Grande (SUPRG). O nome do órgão só foi extinto em 1998, passando a ser chamado Superintendência de Portos e Hidrovias.
O leitor enviou também o fac-símile de um editorial do finado jornal Folha da Tarde, provavelmente publicado em 1973, que previa para o ano seguinte a conclusão da Barragem Eclusada de Amarópolis (situada à margem esquerda do Rio Jacuí, no município de General Câmara, perto da Vila de Santo Amaro, a eclusa foi concluída em 1974 para vencer um desnível de 4,6 metros e restabelecer a navegação no rio) e saúda a obra como o fim do plano hidroviário do Jacuí.
“Este sistema de barragens eclusadas, do qual também fazem parte a do Fandango, nas proximidades de Cachoeira do Sul, e a do Anel de Dom Marco, perto de Rio Pardo, ambas já concluídas, permitirá a navegação do Jacuí, para embarcações de até 2,5 metros de calado, num estirão de 300 quilômetros, desde Porto Alegre até Dona Francisca. Recupera-se, assim, a navegação do histórico curso d’água, com o restabelecimento integral, para a economia rio-grandense, da função que ele já exercera nos primórdios de nossa formação.”
O texto do jornal diz, ainda: “Com a conclusão das três barragens, os 300 quilômetros agora navegáveis do Jacuí terão o prolongamento de mais 300 na Lagoa dos Patos, completando um percurso de 600 quilômetros até o porto de Rio Grande e, desse modo, formando um caminho fluvial e lacustre de alta significação econômica no conjunto dos nossos meios de transporte. Os componentes desse conjunto precisam guardar equilíbrio, contribuindo o desenvolvimento dos sistemas aquaviário e ferroviário para corrigir a atual hipertrofia do sistema rodoviário, que vinha crescendo praticamente sozinho, para desempenhar o seu papel específico e complementar o que, tecnicamente, deveria caber aos demais meios de transporte. Fica o Jacuí, assim, pronto para que se trate de sua ligação com o Ibicuí e, deste, com o Uruguai, partindo-se, oportunamente, para o mais ambicioso e fascinante projeto de navegação fluvial no Estado”.
Miguel esclarece: “Nunca trabalhei no Deprec e jamais tive qualquer ligação com o órgão. Considero catastrófica e fruto do desleixo de sucessivos governos estaduais e federais a extinção tácita da malha ferroviária criada com sangue, suor e lágrimas, ainda na época de Borges de Medeiros, do colapso das rodovias, a maior parte delas herança dos já distantes governos militares”.
Por fim, ele questiona: “Que fim levaram as hidrovias? As eclusas ainda existem? São operacionais? O sistema funcionou/ funciona? Atualmente, a navegação fluvial é um fato econômico real? O plano é primoroso, houve uma época em que os governos faziam as coisas direito”, concluiu Miguel Teixeira de Carvalho.
Seu alerta vale para uma série de propostas, planos e projetos abandonados ao longo do tempo, envolvendo hidrovias, ferrovias e projetos de mobilidade urbana.
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