Prefeitura de SP anuncia "construção" do Parque Minhocão

Após décadas de discussões, prefeitura anuncia projeto para um parque sobre o polêmico elevado que corta o centro da capital paulista. Prazo: final de 2020

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Fonte: Veja SP  |  Autor: Sérgio Quintella/ Ricardo Chapola/Veja SP  |  Postado em: 21 de fevereiro de 2019

Minhocão fechado no domingo, em foto de 2014

Minhocão fechado no domingo, em foto de 2014

créditos: Joel Nogueira/Fotoarena/Divulgação

O Elevado Presidente João Goulart (antigo Elevado Costa e Silva), mais conhecido como "Minhocão", está prestes a passar por uma transformação radical. Na última semana, o prefeito Bruno Covas  anunciou a criação de um parque linear em parte dos 3,4 km de extensão da via.

 

Em uma primeira etapa, ele ocupará 900 metros da pista, nos dois sentidos sobre a avenida Amaral Gurgel. No total, estão previstos 17.500 m² de jardins — o equivalente a quase três campos de futebol —, além de floreiras e deques, dispostos em módulos pré-fabricados. 

 

O espaço, cuja inauguração está prevista para até o fim do ano que vem, é uma das principais apostas de Covas para deixar sua marca na capital, nos moldes do Cidade Limpa, do ex-prefeito Gilberto Kassab (2006-2012), ou da Paulista Aberta, de Fernando Haddad (2013-2016). “Vamos integrar o Parque Minhocão a outros espaços da região, como a Praça Roosevelt e o Parque Augusta”, promete o prefeito.

 

 Rampas e acessos para prédios: maior interação com o entorno Projeções Lerner Arquitetos Associados/Divulgação

 

O investimento previsto de 38 milhões de reais (em estimativa bem otimista) será bancado com recursos municipais. A primeira etapa do Parque Minhocão vai compreender um trecho da saída da Ligação Leste-Oeste ao entroncamento com a Avenida São João. 

 


Detalhe das rampas e acessos para prédios Projeções: Lerner Arquitetos Associados/Divulgação

 

O projeto, baseado em um estudo do urbanista e ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner, prevê a instalação de nove acessos para pedestres ao longo de todo o elevado. Serão construídos elevadores, rampas e escadas tanto no trecho de 900 m do parque quanto nos demais. A parte restante continuará a ser usada para lazer nos fins de semana.

 

 
Palcos móveis (em vermelho): eventos ao ar livre Projeções: Lerner Arquitetos Associados/Divulgação

 

A reforma também inclui a construção de uma ciclovia no meio da pista e arborização nas laterais. Nesse segundo ponto, grandes floreiras verdes deverão aumentar a privacidade dos moradores vizinhos à imensa estrutura de concreto. 

 

“O projeto contempla vegetação e um ambiente de praia para a população do entorno se apropriar da área”, afirma Lerner. O arquiteto também concebeu a instalação de piscinas ao longo da via, mas a prefeitura optou por um modelo “mais pé no chão”. Serão instaladas estruturas de bambu para ampliar as sombras e áreas de descanso. Shows e apresentações artísticas poderão ser realizados em palcos provisórios. Para o futuro, outra medida prevê a construção de passarelas de ligação entre o Minhocão e alguns prédios vizinhos. “A implantação dessa segunda etapa ficará para o próximo prefeito”, explica Covas.
 

Há, no entanto, dúvidas quanto à capacidade da prefeitura em conservar corretamente a nova arborização que surgirá por ali. “A mesma administração que anuncia esse projeto não dá conta do jardim vertical da avenida 23 de Maio”, afirma o botânico Ricardo Cardim.  

 


Estruturas de bambu dispostas no parque: mais sombra para os pedestres Projeções: Lerner Arquitetos Associados/Divulgação


 

Enquanto prepara as ideias do novo parque na parte superior do velho elevado, a prefeitura estuda o que fazer com a úmida, sombria e má ventilada área inferior, onde estão localizadas as avenidas Amaral Gurgel e São João. A proposta é abrir vãos na estrutura existente para que a iluminação natural irrompa em meio ao concreto. No lugar da ciclovia construída pela gestão Fernando Haddad, a intenção é instalar equipamentos públicos voltados a cultura e assistência social — a região é conhecida pela grande quantidade de moradores de rua e usuários de drogas.

 

Trânsito
Outra preocupação da administração municipal diz respeito ao trânsito. Hoje 78 mil veículos circulam diariamente pelo Minhocão. “Os próximos estudos vão contemplar a necessidade de desvios e eventuais novos traçados das vias no entorno”, afirma o secretário de Urbanismo e Licenciamento, Fernando Chucre. 

 

Mudanças nos semáforos e no sentido de algumas ruas também serão objeto de análises pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), mas especialistas veem as medidas com ressalvas. “Os motoristas que utilizam o elevado apenas como passagem para outras regiões serão desviados pelos aplicativos para outras vias. No caso de quem se destina aos bairros do entorno do Minhocão, eles enfrentarão congestionamentos com duração maior que a habitual”, estima o engenheiro de tráfego Sérgio Ejzenberg. 

 

Projetos anteriores
Inaugurado em 25 de janeiro de 1971, durante a ditadura militar, por Paulo Maluf, o elevado entrou na mira de diversos outros prefeitos nas últimas quatro décadas. Em 1976, já com sinais da degradação acelerada do entorno, Olavo Setubal proibiu a circulação de veículos ali entre meia-noite e 5 horas. Onze anos depois, o arquiteto Luiz Antônio Pitanga do Amparo apresentou a Jânio Quadros um projeto para transformar o então Elevado Costa e Silva (o nome foi alterado em 2016) no maior jardim suspenso da América Latina. Em 1989, Luiza Erundina ampliou o fechamento, desta vez estabelecido para o período entre 21h30 e 6h30.

 

Na segunda passagem de Maluf pela prefeitura, em 1996, o bloqueio para veículos começou a ocorrer em domingos e feriados. Em gestões posteriores, houve concursos de melhores projetos para a derrubada das estruturas (José Serra, em 2006) e até promessas de construção de um túnel para enterrar a linha férrea já existente de modo a suprir ao tráfego (Gilberto Kassab, em 2010).

 

Leia a reportagem completa na página da Veja SP

 

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