Barcelona e a mobilidade nas cidades brasileiras

Desde os anos 1990 a cidade catalã investe em mobilidade urbana e segue uma referência, aqui e no mundo, no planejamento do trânsito e em projetos com foco no pedestre

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Luara Lua Pereira De Marinis  |  Postado em: 13 de fevereiro de 2019

Praças e ramblas, os espaços para caminhar em Barc

Praças e ramblas, os espaços para caminhar em Barcelona

créditos: Ajuntament Barcelona/CC BY-ND 2.0


Quando o assunto é mobilidade urbana, não se pode deixar de citar Barcelona, na Espanha. Com um projeto criado há mais de vinte anos e ainda atual, a capital da comunidade autônoma da Catalunha conta com um dos mais reconhecidos e copiados planos de organização das ruas e deslocamento.

 

Tema cada vez mais discutido no cotidiano das capitais e em grandes municípios, as soluções de mobilidade adotadas pelos cidade europeia servem como referência e base para a elaboração de projetos locais no Brasil.

 

Exemplo de planejamento de trânsito e deslocamento de pedestres, Barcelona também é conhecida como destino turístico com várias atrações, a começar pelas obras do arquiteto Antoni Gaudí - a monumental catedral da Sagrada Família, o Park Güell, os edifícios Casa Milà e Batló. E pelas caminhadas em meio às famosas Ramblas, por diversas praças, e pelas visitas a museus como o Pablo Picasso. 

 

Plano da cidade

O investimento em um plano especial dedicado à mobilidade teve início na década de 1990, quando Barcelona foi escolhida para sede dos Jogos Olímpicos de 1992. Isso resultou em diversos projetos que até hoje ficaram como legado e ajudaram a desenvolver efetivamente a capital. 

 

Um deles, a criação de uma estratégia de mobilidade urbana, foi adotado permanentemente e melhorado a cada ano. Em 1997, o governo catalão criou um núcleo de transporte integrado para planejar melhorias relacionadas aos meios de locomoção ao longo de toda a cidade. 

 

O projeto se mostrou eficaz e trouxe bons resultados a longo prazo. Além da diminuição do trânsito de carros, foi uma ótima medida em prol da sustentabilidade, e reduziu o número de acidentes de forma geral. Dados divulgados pelo órgão público responsável dão conta que, em 2015, mais de 40% dos deslocamentos diários feitos pelos habitantes eram feitos a pé ou por bicicleta e cerca de 35% por transporte coletivo.

 

Diversas cidades brasileiras, como o Recife e Fortaleza, vêm tomando as ideias e estratégias de Barcelona, com foco no planejamento para o pedestre, como referência para amenizar seus problemas de trânsito.

 

Entretanto, para que isso seja viabilizado por aqui, é preciso em primeiro lugar investir na melhoria da infraestrutura de calçadas, melhorar o estado de conservação dessas vias, aumentar a iluminação, desobstruí-las, respeitar as faixas livres, recuperar pisos e, especialmente, tratar da segurança do pedestre como estímulo ao caminhar.

 

Superquadras (ou Superilla, em catalão), medida para tirar carros das ruas de Barcelona. Foto: Toniher/ CC BY-SA 3.0

 

Superquadras

Em um primeiro momento, nem todas as medidas implementadas em Barcelona foram bem-vindas. Um dos projetos que mais causou polêmica foi o das “superillas”, ou “superquadras”, implantado em 2015.

 

Essa solução urbana, pensada para o pedestre, consistiu em fechar alguns quarteirões, barrando ou em alguns casos restringindo o acesso a carros à velocidade limite de 10 km/h.

 

Nas superquadras, apenas o trânsito a pé é permitido - são redutos criados como áreas de convivência, com mesas e bancos dispostos no meio da rua e atrações para as crianças, como jogos pintados no chão. Assim, mais do que vias para pedestres, são verdadeiros espaços de encontro e lazer, onde há segurança para promover brincadeiras, onde famílias fazem piqueniques e pessoas andam de bicicleta. 

 

No Brasil, um programa semelhante é o Paulista Aberta, iniciado em 2014 e mais tarde integrado ao Programa Ruas Abertas da prefeitura de São Paulo. Aos domingos e feriados, a maior avenida da cidade é fechada aos carros, para o desfrute da população que então pode caminhar ou pedalar livremente pela via.

 

Também aqui, como ocorreu na versão catalã, inicialmente a novidade não agradou a todos, e houve resistência por parte de alguns moradores que se queixavam de não ter como estacionar, da distância que pessoas com dificuldade de locomoção teriam de percorrer até o ponto de ônibus, e da falta de acesso de veículos de emergência na área fechada. Na Paulista, pelo menos, esses problemas foram equacionados.

 

Melhorou a aprovação do projeto e, após estes mais de quatro anos a maioria das pessoas já aceita e está convencida da ideia. Sem dúvida, são exemplos de como o debate é essencial para se atingir o melhor para todos e o mais conveniente para a população. É a confirmação de que inspirar-se no plano espanhol pode render grandes benefícios para a mobilidade urbana no Brasil.

Link da foto de abertura

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