As bicicletas estão ganhando espaço na vida dos brasileiros e na economia de grandes cidades, como Fortaleza , no Ceará. Estudo feito pela Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike) e pelo Laboratório de Mobilidade Sustentável (Lamob) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra que a fabricação, importação de bicicletas, peças e acessórios movimenta mais de R$ 902,8 milhões por ano no Brasil. É o quarto maior produtor mundial e o quinto maior mercado consumidor.
Para Daniel Guth, coordenador do estudo Economia da Bicicleta no Brasil, publicado em 2018, esta nova "onda" começou a ganhar força nos últimos dez anos, muito estimulada pela falência do sistema de transportes no Brasil que por mais de um século priorizou e estimulou o uso dos carros em detrimento dos demais modais. Mas este é um fenômeno que ocorre, principalmente, nas grandes cidades brasileiras. No Nordeste, Fortaleza vem liderando este processo, em especial também entre as classes média e alta, que vêm buscando alternativas de mobilidade e mais qualidade de vida.
"É um público altamente consumidor e que está pautando o tema. Nesse contexto, há um fenômeno de bicicletas de maior valor agregado, que se aplica a bicicletas urbanas, mountain bike, de treino e elétricas", acrescenta. Ele alerta, porém, que nas cidades de pequeno porte, que historicamente tinham as bicicletas como um dos principais modais de transporte, o que se observa é um movimento inverso. "Tem crescido muito o uso de motos. O que é muito grave, porque a maioria destas cidades não tem estrutura viária. Isso aumenta os índices de poluição e o número de acidentes e mortes no trânsito", diz.
Livreto da Aliança Bike e Labmob
Em 2018, a produção só dos fabricantes de bicicletas instalados no Polo Industrial de Manaus (PIM), que representa em torno de 20% do setor, chegou a 773.641 unidades. Alta de 15,9% em relação ao ano anterior, conforme dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). Para este ano, a meta é chegar a 857 mil unidades. "A maior oferta de produtos, preços mais competitivos, expansão da mobilidade urbana e a queda do índice de inadimplência, aliada ao aumento da oferta de crédito pelas instituições financeiras, também contribuíram para registramos esse desempenho positivo. Tudo isso nos deixa muito otimistas ao fazermos projeções para 2019", explica o diretor executivo da Abraciclo, José Eduardo Gonçalves.
Inovações no mercado
É também um mercado em transformação. Se antes existia uma divisão mais clara entre indústria, atacado, varejo de bicicletas, aluguel, autopeças e lojas de reparo. Agora, a tendência é que as lojas façam de tudo um pouco. Mais de 90% das bicicletarias no Brasil, por exemplo, também oferecem serviços de reparo, e 63% promovem ou apoiam pedaladas.
Tarcísio Lima, 47, dono da Bike Viva, em Fortaleza, confirma: metade do faturamento vem dos serviços de manutenção. Também oferece, além da venda, customização, acessórios e consultoria não só para o usuário, para que o consumidor escolha o modelo mais adequado ao seu biotipo e finalidade. E oferta, ainda, infraestrutura cicloviária, a chamada "bike city", para gestores públicos, empresas e condomínios.
"É um segmento de grande potencial, principalmente, depois da Lei Municipal 10.445/16, de Fortaleza, que obriga os estacionamentos a oferecer vagas para bicicletas. Então, a gente orienta como deve ser o espaço, a colocação dos paraciclos, por exemplo. Porque, se o projeto não for feito da forma correta, pode até danificar a bicicleta", alerta Lima.
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