Você acha que eles são loucos? Mas andar de bicicleta durante um fenômeno como o vórtice polar não é loucura, garantem os ciclistas da capital de Minnesota, Saint Paul, ao norte dos Estados Unidos.
Para eles, "é divertido e até agradável", conta Melissa Wenzel, que pedala cerca de 7 milhas (7,6 km) para ir trabalhar na agência de controle de poluição de Minnesota, em St. Paul. "Devo dizer que sinto mais frio indo em um carro sem aquecimento do que de bicicleta, porque na bike me movo o tempo todo", justifica.
Mesmo ao longo da última semana, diz Melissa, quando os termômetros em Minnesota caíram a menos 20 graus Fahrenheit, com ventos arrepiantes de -50 graus. Ela e muitos outros, chamados ciclistas de inverno, pegam a estrada, claro que bem agasalhados.
"Sinceramente, não foi tão ruim assim", declarou Zack Mensinger, após pedalar cerca de quatro milhas até uma cafeteria da cidade, ao vento de -20 graus. "Cheguei até suando", diz.
Eles são conhecidos como os "guerreiros de estrada de inverno", ciclistas que circulam pela área metropolitana das chamadas Cidades Gêmeas (Twin Cities), as duas maiores: Minneapolis e Saint Paul. São ciclistas que se recusam a abandonar suas bikes só porque há flocos de neve pelo chão ou porque ficarão com a pele enregelada em alguns minutos, algo que consideram "nada de extraordinário". Basta usar a roupa adequada, levar os equipamentos certos e ter atitude, explicam.
Evite congelar
A primeira prioridade, dizem os ciclistas, é achar a maneira certa de se aquecer sobre uma bicicleta, não importa o quão frio esteja o ar lá fora.
Cada ciclista de inverno de Minnesota tem sua própria técnica, mas todos afirmam que é muitíssimo fácil manter-se quentinho, mesmo quando a temperatura cai abaixo de zero.
"Para mim, tudo começou quando percebi que o vestuário adequado consegue barrar o frio", diz Benjamin Fribley, que pedala o ano todo para ir ao trabalho. Ele explica que o principal é saber manter mãos e pés quentes. "Isso resolvido, você pode fazer qualquer coisa...", recomenda.
Benjamin Fribley com suas incríveis barbas congeladas. Foto: Cortesia Benjamin Fribley
Roupas para o frio
Em vez de luvas, Fribley e outros usam um produto chamado "pogies", ou Bar Mitts - bolsas presas ao guidão da bicicleta que evitam que o vento frio longe atinja as mãos.
Além disso, recomendam que o ciclista se vista 'em camadas', sendo que a camada externa já deve ser suficiente para quebrar a ação do vento; um cachecol e óculos de proteção ajudam a manter o rosto aquecido e a não congelar o globo ocular; na cabeça, usar um capuz sob o capacete é bem recomendável. O melhor é que a jaqueta já tenha um capuz, sugere Fribley.
A viagem de bicicleta que o jovem faz de St. Paul Foley para St. Paul é de apenas 1,6 km. Em dias típicos de inverno, ele apenas coloca um casaco sobre suas roupas normais de trabalho. Se o tempo despencar abaixo de 10 graus, ele adiciona suéteres por baixo do casaco para aumentar o isolamento. Mas uma das principais lições, diz Fribley, é não exagerar no "empacotamento", por mais frio que esteja.
Na última terça-feira (29), Peter Grasse, um engenheiro aposentado, resolveu pedalar sob um ar de quase 12 graus abaixo de zero. "Mesmo tão frio, em um momento tive de parar para abrir um dos vários zíperes de meu agasalho", conta.
Para os "iniciados", andar de bicicleta na neve não é tão problemático quanto em outro tipo de situação de clima frio: 40 graus negativos, com chuva. A água das poças se espalham ao redor da bicicleta, e tudo fica bem pior. "Com o gelo, isso não acontece; a umidade não chega a entrar nos sapatos", diz.
Outra grande preocupação que mantém muitos ciclistas fora de suas bicicletas no clima frio é a dificuldade de condução, pois sob neve e gelo pode atrapalhar a tração do veículo de duas rodas.
Pneus com cravos mantêm Melissa Wenzel de pé na bike sobre a neve. Foto: Cortesia Melissa Wenzel
Equipamentos
A ferramenta mais importante para o ciclismo de inverno sério são os pneus cravejados. Apenas equipar uma bicicleta normal com pneus cravejados já é suficiente para garantir tração e estabilidade.
É importante desacelerar um pouco também. "Os pneus cravejados dão a você muita aderência, mas eles não lhe dão imunidade completa", disse Grasse.
Outra dica é a visibilidade. Andar de bicicleta no inverno do norte do meio-oeste americano significa pedalar por dias mais curtos, com a manhã e a noite em plena escuridão. Para isso, é importante usar roupas reflexivas e muitas lanternas na bicicleta e no capacete, para que o ciclista possa ver bem a via e também ser visível aos motoristas.
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