Os patinetes elétricos são a última moda para locomoção. Sucesso fora do país, o meio de transporte chegou ao Brasil no ano passado e já mudou a rotina e o tráfego de cidades como São Paulo. Bem diferente do brinquedo infantil, o novo patinete é elétrico e chega a 25 km por hora.
O problema é que uma queda ou freada brusca nessa velocidade, sem o equipamento de segurança adequado, pode causar sérios acidentes.
Um estudo publicado recentemente no periódico científico JAMA Network Open mostrou que no período de um ano, no mínimo 249 pessoas chegaram à emergência de dois hospitais na Carolina do Sul, nos Estados Unidos, após terem sofrido acidente com patinetes elétricos. Os machucados incluíam inchaço, ossos quebrados, contusões e até lesões na cabeça, com hemorragias cerebrais.
Perfil dos acidentes e acidentados
O objetivo do estudo foi analisar o padrão dos acidentes com patinete elétrico. Os resultados mostraram que a maioria das pessoas machucadas estava andando no veículo. Entre essas, a maior parte caiu do patinete. Mas 11% bateram em algo e 8,8% foram atingidas por um carro ou outro veículo.
No entanto, alguns pedestres também se lesionaram: 21 pessoas foram atingidas por um patinete ou caíram ao esbarrar em um que estava estacionado na calçada ou ainda se machucaram ao tentar levantá-lo do chão.
Cerca de 40% dos pacientes sofreram ferimentos na cabeça e muitos deles foram sérios, incluindo cinco sangramentos cerebrais e uma concussão. Infelizmente, as fichas dos pacientes não traziam muitos detalhes sobre como estavam usando o veículo. De acordo com os relatórios médicos, doze pacientes mostravam sinais de embriaguez e apenas dez deles, o que corresponde a 4,4%, usavam capacete.
Comportamento
Para entender melhor o comportamento dos usuários de patinete, a equipe de pesquisadores passou um dia na rua. No total, observaram 193 pessoas passarem em um desses veículos. Tarak Trivedi, médico da emergência da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e líder do estudo contou que “tinha de tudo”. Desde pessoas andando em dupla no mesmo patinete até pai andando com o filho (ambos no mesmo patinete) e pessoas andando nas calçadas, o que contraria as leis de trânsito. Além disso, 11% dos “machucados” tinham menos de 18 anos – algo que também não é permitido em veículos motorizados.
O estudo não analisou a taxa de acidentes com patinete elétrico em comparação com a de acidentes com outros meios de transporte, como carro ou bicicleta. No entanto, os pesquisadores encontraram registros de 195 acidentes de bicicleta e 181 pedestres machucados que chegaram às mesmas emergências hospitalares.
“Nós não sabemos nada sobre quilômetros rodados ou o número de corridas ou a quantidade de pessoas que anda diariamente nesses patinetes. Ainda não está claro se andar no patinete elétrico é mais perigoso que na bicicleta”, explica Trivedi.
Proteção é essencial
Devido ao sucesso do novo meio de transporte, espera-se que a quantidade de usuários e consequentemente, de acidentes, aumente nos próximos anos. Para impedir que isso aconteça, é preciso que as empresas que disponibilizam as engenhocas para aluguel pensem em formas de dar aos usuários acesso a capacetes. E que os usuários usem a proteção.
Por outro lado, não se sabe se capacetes de bicicleta, por exemplo, seriam o suficiente para reduzir o risco de lesão ao cair de um patinete elétrico. “Como essas coisas são motorizadas, nós não sabemos se capacetes de bicicleta serão adequados ou não”, afirma Frederick Rivara, professor de pediatria na Universidade de Washington, que escreveu um editorial sobre o assunto, publicado junto com o estudo.
Outro fator que contribui para os acidentes é a falha na manutenção dos equipamentos. Diversos usuários relataram problemas como os freios, por exemplo. Portanto, uma melhor manutenção poderia reduzir o risco.
Vale ressaltar que a responsabilidade pela segurança dos usuários não depende apenas das empresas. As cidades e os usuários também precisam fazer sua parte. Utilizar o capacete, não trafegar nas calçadas e estacionar o patinete no local determinado, em vez de deixá-lo jogado na rua, são formas de prevenir acidentes. As cidades também precisam garantir a segurança nas vias e reservar um espaço nas ruas para veículos que não sejam automóveis, como bicicletas e patinetes elétricos.
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