Menos de uma semana depois da chegada das patinetes e bicicletas amarelas compartilhadas da Yellow na capital mineira, pelo menos quatro das bikes foram jogadas dentro do Rio Arrudas, na tarde de domingo (20), na altura da Estação do Metrô Santa Tereza, na região leste de Belo Horizonte. Outras duas foram encontradas com as rodas quebradas em frente ao Parque Municipal, no centro.
Na quinta-feira, dois dias depois do lançamento do serviço da empresa Yellow, duas pessoas foram presas em flagrante pela Guarda Municipal por furtar uma das bicicletas no centro-sul da cidade. Os ataques aos veículos da estreante no compartilhamento na capital mineira não são exclusividade nem da empresa nem de BH.
Vandalismos e furtos ocorreram com frequência também com as bicicletas do Banco Itaú, a Bike BH, que atua na cidade há quatro anos e meio, e os veículos da própria Yellow já foram alvo também em São Paulo, São José dos Campos, Rio de Janeiro e Florianópolis, segundo a empresa.
Para cicloativistas, apesar do crescimento da adesão aos deslocamentos sobre duas rodas, falta conscientização sobre esses novos modelos de transporte. E ainda há muito a fazer no que se refere aos veículos compartilhados. “Infelizmente, o vandalismo é algo comum em várias partes do mundo. Se não me engano, em algumas cidades, o índice de bikes disponíveis depredadas chega a 30%. Já vi dessas bicicletas vandalizadas em Paris”, comenta o cicloativista Gil Sotero.
Compartilhamento
O serviço de compartilhamento da Yellow entrou em operação em BH no dia 15 de janeiro, com perspectiva de colocar nas ruas mais de 500 bicicletas e 250 patinetes. A empresa não divulgou o número exato de casos de furtos e vandalismo nem o prejuízo provocado por eles.
Por meio de nota, informou que “todas as patinetes e bicicletas Yellow são rastreadas por sistema GPS, o que já evitou episódios indesejados e ainda levou à recuperação dos veículos e à apreensão de pessoas envolvidas nesses casos”. Disse ainda que, para tentar impedir esse tipo de ocorrência, o serviço funciona das 8h às 20h e as patinetes são recolhidas das ruas todas as noites. Por sua vez, as bikes foram desenvolvidas “com peças exclusivas que não se adaptam a outros modelos”, completou. Ainda segundo a Yellow, “um time de guardiões” é responsável pelo recolhimento, manutenção, monitoramento e organização das operações das bicicletas e patinetes.
Gerente operacional da Serttel, responsável pelo sistema Bike BH – as bicicletas do Itaú –, Eduardo Ferraz diz que vandalismos e furtos ocorrem em índices “dentro da normalidade” na capital mineira, mas recorda que em outubro houve um movimento atípico: 50 bicicletas foram vandalizadas em apenas três dias na Região da Pampulha. “Os itens mais vandalizados das bikes são espelhos retrovisores e selim”, informou. As bicicletas laranjas já são veteranas nas ruas da capital mineira. O serviço foi inaugurado em 2014 e tem 40 estações e 400 bicicletas disponíveis. Segundo a empresa, até dezembro de 2018 foram contabilizadas 420.498 viagens.
Participação tímida
Embora haja uma adesão crescente do belo-horizontino ao pedal – aumento de 16% no número de pessoas que utilizam esse meio de locomoção em apenas um ano, de acordo com a Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo) –, o uso das bicicletas compartilhadas continua tímido. “O serviço de compartilhamento de bicicletas tem potencial gigantesco para aumentar o número de pessoas pedalando pela cidade. Outros países provam isso”, disse Mariana Oliveira, de 27 anos, arquiteta e urbanista, cicloativista e associada à BH em Ciclo. “Coloca as pessoas na rua e mostra que não é impossível andar de bicicleta na cidade. Quanto mais bicicletas na rua, mais os motoristas vão ser obrigados a respeitar o espaço que estamos ocupando. Afinal de contas, a cidade deve ser compartilhada”, acrescentou a cicloativista.
Dados da BH em Ciclo, em parceria com o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil), relativos à Bike BH, entretanto, apontam que em 2017 os ciclistas nas compartilhadas eram 1,7% do total e em 2018, 1,5%. “O sistema de bicicleta compartilhada de Belo Horizonte tem um histórico de problemas de operação como estação off-line e veículos com defeito, o que afasta os potenciais usuários. Além disso, faltam ação de comunicação para incentivar o uso e investimento do poder público em infraestrutura”, avaliou Mariana.
Levando-se em consideração os dados da Pesquisa Origem/Destino de 2012, que contabilizou aproximadamente 26 mil viagens diárias de bicicleta na cidade, as bicicletas compartilhadas têm potencial de aumentar em cerca de 5% o total de ciclistas em BH, calcula Mariana.
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