Alemanha testa ciclovia geradora de energia solar

Projeto-piloto em povoado alemão é pavimentado com pastilhas fotovoltaicas que, além de gerar energia, ainda ajudam a absorver ruídos e a derreter a neve sobre a pista

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Fonte: Terra/ Deutsche Welle  |  Autor: Terra  |  Postado em: 19 de novembro de 2018

Malha de células fotovoltaicas sobre a via é autol

Malha de células fotovoltaicas sobre a via é autolimpante

créditos: picture-alliance/dpa/H. Kaiser

Plantações à direita, casas à esquerda e, no meio, uma ciclovia que serpenteia pelo bairro de Liblar, em Erftstadt, cidade cerca de 30 km a sudoeste de Colônia. No local, ciclistas sacam seus celulares para fotografar a placa com os dizeres: "Inauguração da primeira rota solar da Alemanha".

 

Como um tapete novo sobre o asfalto, a pista da ciclovia compõe-se por uma gama de pastilhas solares feitas de vidro laminado nodoso. "Esta é uma ciclovia de 35 anos, com desníveis e raízes de árvores", diz o inventor do 'tapete solar' e fundador da startup Solmove, o engenheiro Donald Müller-Judex. "Nós a cobrimos do jeito que estava, colando células fotovoltaicas sobre ela." Ele explica que usar a ciclovia já existente constitui a grande vantagem desta tecnologia, já que construir uma nova via sairia bem mais caro.

 

Cada uma das pastilhas, de 10 X 10 cm, é uma célula solar, interligada eletricamente e mecanicamente às outras, formando um tecido flexível. Uma camada de borracha absorve o som e conecta o tapete com a parte inferior do piso.

 

Müller-Judex teve a ideia há alguns anos, quando procurava espaços abertos para sistemas solares na região do Allgäu. Todos os telhados apropriados para instalação de placas solares já estavam ocupados, mas havia muitas ruas pouco movimentadas iluminadas pelo sol. Segundo ele, somente na Alemanha há 1,4 bilhão de m² de ciclovias disponíveis para a produção de energia, situadas em locais de pouca sombra. Essa áreas poderiam ter, assim, dupla utilização, pensou.

 

A ideia prosperou, muito embora em módulos horizontais (sobre o piso) a radiação solar não seja ideal para a produção fotovoltaica. "A estrada solar gera menos eletricidade do que o modo tradicional, sobre o telhado", explica o pesquisador Lukas Renken, da Universidade Técnica da Renânia do Norte-Vestfália (RWTH), em Aachen.

 

O instituto onde ele atua testou em laboratório o revestimento criado na ciclovia pela empresa Solmove, assim como tecnologias semelhantes, como a SolaRoads, da Holanda. Usinas de geração de energia em rodovias estão surgindo em diversos países, e os projetos diferem sobretudo na construção e na disposição dos painéis.

 

Múltiplos usos
Renken vê benefícios sobretudo na multifuncionalidade da nova pavimentação: os ladrilhos permitem a associação com circuitos de aquecimento para o inverno, iluminação LED e também de circuitos de indução para o carregamento de veículos elétricos, ou até mesmo de sensores para monitorar e controlar o tráfego - para fazer funcionar, por exemplo, um semáforo.

 

E exemplifica: na ciclovia solar, a administração da cidade não precisa gastar com o serviço de limpeza de neve e gelo durante o inverno. A pista se autodescongela com a eletricidade gerada por ela mesma. O restante da energia vai para a rede e pode ser consumida pelos moradores locais. Müller-Judex avalia que poderão ser gerados cerca de 15 mil quilowatt-hora (kWh) por ano, mais ou menos o consumo de uma família de quatro pessoas na Alemanha.

 

"Nós vamos, nos próximos meses, olhar para o monitor e comparar os rendimentos com a produção fotovoltaica normal. Vai demorar dois a três invernos só para testarmos a calefação". Também será necessário algum tempo para se saber como o sistema resiste à geada, à sujeira e ao peso do trânsito.

 

Em teste
A superfície deve ser autolimpante devido à estrutura de nódoas: a sujeira se acumula nas junções e é lavada pela chuva. Mas isso funciona na prática? "Há certas coisas que não conseguimos testar em laboratório", pondera Renken.

 

A ciclovia-piloto, de 90 m de extensão e cerca de 200 m² de área, custou cerca de 800 mil euros e foi financiada pela Iniciativa Nacional para Proteção do Clima, do governo alemão. A ministra alemã do Meio Ambiente, Svenja Schulze, disse estar satisfeita por não precisar ir a Amsterdã ou Copenhague - duas das cidades mais famosas do mundo pelo amplo uso de bicicletas para o transporte urbano - para conhecer um exemplo de inovação ambiental.

 

Apoio estatal
Müller-Judex pede mais apoio estatal para startups de tecnologia limpa. "O que recebemos de incentivo é cerca de um décimo do disponibilizado na França ou na China", afirma, lembrando que, nesses países, estradas solares são construídas em grande estilo. Até 2020, a startup Wattway instalará na França mil quilômetros de rodovias para produção de energia solar. Para financiar o projeto, o governo aumentou o imposto sobre a gasolina.

 

Empenhada em reformar sua malha de ciclovias, a administração de Erftstadt também colabora, assumindo cerca de 10% dos custos do projeto. "Temos muitos caminhos históricos e antigas linhas ferroviárias para escoamento de minério e investimos muito dinheiro nelas", diz o prefeito Volker Erner. "Há três anos ninguém teria pensado que tal coisa seria possível." A ciclovia solar também é um projeto que serve de contrapartida à exploração de minério de carvão nas proximidades.

 

Mas há críticos do projeto, que argumentam que, com o mesmo dinheiro, poderiam ser construídas ou renovadas inúmeras ciclovias convencionais. Já na visão dos apostadores na ideia, é normal que a pista de teste seja mais onerosa do que uma rota solar produzida em grande escala.

 

Müller-Judex avalia que, com produção em série, o custo será de 250 euros por metro quadrado, e esse investimento daria retorno de 12 a 14 anos. Depois, o pavimento geraria eletricidade por mais dez anos. A longo prazo, a ciclovia solar deve ser mais barata que a normal, que só tem custos, justifica o engenheiro da Solmove.

 

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