Um viaduto cedeu cerca de dois metros no trecho oeste da Marginal Pinheiros, próximo ao Parque Villa Lobos, na zona oeste de São Paulo, durante a madrugada desta quarta-feira (15). Além dos riscos para os motoristas, o acidente paralisou a Linha 9 da CPTM, um dos principais trechos da malha de trens urbanos da capital paulista.
O episódio de hoje é mais um entre vários casos de acidentes gerados pela falta de manutenção nas obras públicas. Há 18 anos o Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e Engenharia) iniciou um amplo estudo, em várias cidades do Brasil, mostrando que obras viárias, galerias, estádios e inúmeras obras construídas no país estavam com sérios riscos de acidentes, simplesmente por falta de conservação. Infelizmente, o problema é nacional, como os estudos e vários acidentes mostraram posteriormente. Um dos episódios mais tristes foi o desmoronamento de parte da arquibancada do Estádio Fonte Nova, em Salvador, no ano de 2007.
No caso de São Paulo (veja relatório), o levantamento apontava que, dos 270 viadutos e pontes da capital paulista, 10% apresentavam estruturas deterioradas e exigiam reparação imediata, e 50% requeriam pequenos reparos. No mesmo ano, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) identificou vias elevadas em situação crítica. Seguiram-se inúmeras declarações de autoridades e - finalmente, em 2007 - um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado pela prefeitura paulistana a partir de um pedido do Ministério Público Federal. O termo assinado comprometia a municipalidade a realizar as manutenções necessárias nas várias obras de arte.
Em 2014, o Mobilize participou da ação "Adote uma Ponte", iniciativa da Ciclocidade (Associação dos Ciclistas Urbanos de SP) que procurava comprometer a prefeitura a construir passagens de pedestres e ciclistas nas pontes e viadutos da capital. A resposta da gestão municipal foi quase imediata, iniciando a implantação dessas passagens em vários locais da cidade, com grandes benefícios para a mobilidade ativa. Mas, as imagens colhidas pelos participantes mostravam falhas graves nos pisos laterais dessas obras, ferragens expostas e enferrujadas, além de gradis de proteção deteriorados. Ficava evidente que o programa de manutenção proposto no TAC de 2002 não estava sendo seguido ou estava muito longe de atender às reais necessidades da manutenção.
Buraco em piso na Ponte Jaguaré Foto: Adote uma Ponte
Jardins suspensos no viaduto
Os problemas continuam visíveis especialmente para os pedestres e ciclistas que conseguem observar em mais detalhe as inúmeras falhas: buracos nos pisos, grades de proteção destruídas ou enferrujadas, juntas de dilatação muito abertas, mostrando a movimentação dos tabuleiros, lixo acumulado sob as estruturas e muitas árvores (ficus) nascendo sobre as vigas e juntas de viadutos. Um exemplo é o Viaduto Eng. Alberto Badra, no bairro da Penha (zona leste) transformado em um jardim suspenso pelo efeito da natureza e da falta de cuidados técnicos.
Viaduto Alberto Badra, na zona leste de São Paulo: árvores nascem nas juntas de dilatação Foto: Papel Repórter
Outro triste exemplo é a sofrida Ponte das Bandeiras sobre o rio Tietê. Suas duas torres de observação já testemunharam inúmeras regatas nas águas do rio e viram as pistas da avenida marginal gradativamente ocupar mais e mais espaço nas margens do rio. Pouco resta da imponência original, e suas estruturas subterrâneas, antigas casas de bombas, tornaram-se moradias miseráveis. Mas, talvez pela robustez da técnica usada em 1938, quando foi construída, ela felizmeresiste.
Morador em antiga casa de bombas na Ponte das Bandeiras Foto: Eduardo Knapp/Folhapress
Por fim, cabe lembrar que todos os anos a prefeitura coloca grandes equipes munidas de baldes de cal para pintar as guias e defensas de concreto das pontes e viadutos. E passam por buracos na estrutura, grades rompidas, ciclovias e calçadas destruídas Os problemas são óbvios, todos vêem, mas nada (ou pouco) se faz. No mais das vezes, pinta-se por cima.
Em declarações à imprensa, o prefeito Bruno Covas argumentou que foi impossível evitar o acidente porque a obra não deu sinais visíveis de qualquer fadiga estrutural. Obras - todas elas, de uma simples calçada até uma barragem - são projetadas para durar um certo tempo a partir do qual a manutenção é obrigatória. O TAC de 2007 apontava claramente a necessidade de criação de um programa permanente de conservação dos bens públicos, com respectiva dotação orçamentária. De lá para cá, pouca coisa mudou na prática. E vez ou outra, cai um viaduto. Ou um pedestre tropeça e cai em um buraco...
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