Carros parados nas ruas de BH dariam mais 65 praças da Liberdade

Estudo em 155 bairros da capital mineira mostra que espaços dedicados a veículos poderiam ser áreas de convivência

Notícias
 

Fonte: O Tempo  |  Autor: Rafaela Mansur  |  Postado em: 12 de novembro de 2018

Carros parados tiram espaço de uso da população de

Carros parados tiram espaço de uso da população de BH

créditos: BH Trans/ Divulgação

Belo Horizonte teria espaço para abrigar mais 65 praças da Liberdade (área pública de 35 mil m²) se as vagas destinadas a carros nas ruas não fossem mais necessárias. O levantamento, feito pela 99, empresa e aplicativo de transporte individual, considera somente o número de carros parados nas vias entre 10h e 11h, em 155 bairros da capital.

O estudo ainda chama a atenção para a ocupação de vagas em regiões próximas a estações de metrô e plataformas de ônibus, o que indica que muitas pessoas têm feito parte do trajeto de carro, aliando com o transporte público. Na avaliação de especialistas, a mobilidade intermodal é necessária, mas, para ser eficiente, o poder público precisa encarar o desafio de integrar melhor a rede e fortalecer o transporte público e outros tipos de modais.

“O nosso serviço é complementar. Alimentamos a rede de transporte público com passageiros”, diz o gerente de políticas públicas da 99, Christian Baines. Muitas viagens realizadas pelo aplicativo começam ou terminam nas redes de transporte público e, segundo ele, o serviço da empresa reduz a demanda por estacionamento. 

Em outras capitais
Em São Paulo, a estimativa da empresa é que 80 mil vagas por dia não são mais necessárias: “As pessoas estão deixando de usar automóvel por causa do custo e da facilidade dos aplicativos. Espaços enormes dedicados a carros parados poderiam ser áreas de convivência, calçadas maiores e ciclovias”.

No Rio de Janeiro, a 99 fez uma parceria com o transporte público: quem utilizava o metrô ganhava desconto nas corridas do aplicativo. 

Esse tipo de parceria é interessante, na opinião do coordenador de Políticas Públicas do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (IPTD), Bernardo Serra, e o poder público deve promover incentivos para que usuários não façam toda a viagem por aplicativo, mas também usem o transporte público. “Os aplicativos são interessantes porque desestimulam as pessoas a pegarem o próprio carro. Mas, ao mesmo tempo, acabam atraindo pessoas que usariam o transporte público”.

Segundo Serra, a mobilidade intermodal é necessária, mas as redes ainda estão pouco integradas. Estudos do IPTD mostram que, em Belo Horizonte, somente 27% da população vive a menos de 1 km de uma estação de metrô ou do BRT. Além disso, menos de 3% das vias da capital possuem alguma prioridade para o transporte público e apenas 38% das estações de média e alta capacidade estão próximas de ciclovia ou ciclofaixa: “O transporte público tem que ser valorizado para atrair mais usuários”.

O assessor parlamentar e estudante Gil Sotero, de 40 anos, usa diferentes modais em BH. Vai da faculdade ao trabalho de bicicleta, e, do trabalho para a casa, além de pedalar, usa metrô e ônibus. “Já avançou bastante, mas ainda pode melhorar. O horário em que permitem bicicleta comum nos ônibus e metrô é reduzido e são necessárias mais ciclovias. Pego ônibus porque, às vezes, não tem como pedalar com calma. Os modais maiores não são receptivos com os outros”, diz.

Números
Vagas: Na capital mineira, há 23.679 vagas físicas com sistema rotativo, que geram 107.069 possibilidades de estacionamento.

Estrutura: A cidade tem, atualmente, 45 km de pista exclusiva para ônibus e um total de 83 km de ciclovias.

Integração: Em SP, 13,2% das corridas da 99 começam ou terminam nas redes de transporte público; no Rio, o índice é de 24,3%.

Aposta em rede intermodal
Por enquanto, não está nos planos da Prefeitura de BH reduzir o número de vagas de estacionamento nas ruas. A ideia, segundo a administração, é fortalecer o transporte público e modais mais sustentáveis, como bicicleta e viagens a pé. Ainda neste ano, devem ser lançadas licitações para contratar projetos de mais 80 km de faixas exclusivas para ônibus e 56 km de ciclovias.

“Primeiro, a gente tem que dar uma oferta boa de transporte e condições para a pessoa deixar o automóvel e migrar para outro sistema”, diz a diretora de Planejamento e Informação da BHTrans, Elizabeth Gomes.

Segundo ela, é importante incentivar a mobilidade intermodal para reduzir o número de automóveis nas vias. Como forma de estímulo ao uso da bicicleta, o município planeja implementar mais vias com ciclovias próximo a estações de integração, além de bicicletários e bikes compartilhadas nessas estações.

Para melhorar os deslocamentos a pé, Elizabeth diz que a BHTrans tem investido no aumento dos tempos de semáforos para a travessia de pedestres e em sinais sonoros para pessoas com deficiência visual. Além disso, o órgão está estudando em quais áreas da cidade é viável iniciar a implantação da Zona 30.

Em relação ao transporte público, a gestora cita as tarifas menores em caso de integração, as faixas exclusivas, o BRT e o pagamento eletrônico, que agilizam as viagens, e a renovação da frota com veículos com ar-condicionado e suspensão a ar, que geram mais conforto. 

Ela pontua, ainda, a instalação de painel eletrônico nos abrigos e o aplicativo Siu Mobile, que têm informações sobre o sistema, além da criação de linhas que interligam centralidades, como a 208 (Betânia/Barreiro): “Precisamos incentivar essas integrações”, afirma. Elizabeth diz no entanto que ainda não há previsão de parceria com aplicativos.

Número de ciclistas cresce 16%
A quantidade de ciclistas na capital mineira aumentou 16,19% neste ano, em comparação com 2017. O levantamento, feito pela Associação dos Ciclistas Urbanos (BH em Ciclo) com o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (IPTD), contabilizou 3.838 ciclistas na cidade.

“Não foi feito nada do ponto de vista de política pública para incentivar o uso de bicicleta no período. A gente deduz que parte das pessoas que experimentaram a possibilidade do deslocamento por bicicleta durante a crise de combustíveis percebeu que era possível substituir definitivamente o carro”, diz Carlos Edward Campos, membro do BH em Ciclo. Segundo ele, existe uma demanda reprimida e interessada em usar a bicicleta em partes do trajeto.

Leia também:
PlanBici de Belo Horizonte está há um ano parado
Corte de custos nos ônibus de BH serão mapeados
Greve incentivou bicicletas em Belo Horizonte
Notas baixas para os ônibus de BH, Rio e SP
Mobilidade ainda não é prioridade em BH, aponta relatório

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário