A rua dos Pinheiros, conhecida pela concentração de bares, restaurantes e cafés na zona oeste de São Paulo, virou um laboratório de testes da convivência entre pedestres e motoristas. Um trecho do asfalto entre as ruas Cônego Eugênio Leite e Joaquim Antunes vai abrigar minilounges, com bancos de madeira, pufes, floreiras e paraciclos em ambos os lados.
Nesta segunda-feira (5), a pintura do asfalto que demarca onde os espaços de convivência serão instalados foi concluída. O mobiliário será totalmente montado até a próxima quinta (8).
A intervenção vai simular por 35 dias a viabilidade de a calçada avançar para o asfalto aumentando assim a área de circulação e descanso para pedestres no espaço urbano.
Para isso, o trecho perdeu 18 vagas de estacionamento da zona azul. Só foram preservadas as vagas para idosos e deficientes. Já a calçada temporária ganhou, no total, 790 m2 de área. Ao longo do programa, a velocidade máxima permitida para os carros que circulam na rua também vai cair dos atuais 50 km/h para 40 km/h.
A novidade que grita aos olhos está nos cruzamentos. Com as calçadas ampliadas até mesmo sobre as faixas de pedestre, quem circula a pé precisará de menos tempo para fazer a travessia de um lado a outro da rua. A aposentada Itacy Amaral, de 72 anos, moradora da rua Fradique Coutinho, também em Pinheiros, estava de passeio pelo bairro e aprovou a ideia. “O meu passo é mais lento. Com menos asfalto e mais calçada não corro tanto risco e ganho mais tempo na travessia”, disse.
Quem também achou a intervenção oportuna é o entregador de água Rodolfo de Souza. Acostumado a transportar muitos galões em uma bike, Rodolfo usou a nova calçada no cruzamento da rua dos Pinheiros com a Cônego Eugênio Leite para descansar. “Vai facilitar e muito o meu trabalho”, afirmou.
O projeto está sob o guarda-chuva do Coletivo Pinheiros e conta com a chancela do vereador Police Neto (PSD) e mais o apoio da subprefeitura de Pinheiros, CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e a Iniciativa Bloomberg para a Segurança Global no Trânsito.
A iniciativa funciona mais como uma provocação, segundo Vanessa Rêgo, presidente do Coletivo Pinheiros. “Nessa cidade onde o carro sempre ganha, estamos propondo uma nova experiência de uso da rua provocando o poder público e a iniciativa privada a agirem por essa causa”.
Apoio local
Para sair do papel, o projeto contou com o apoio de comerciantes, que aceitaram abrir mão das vagas de estacionamento rotativo antes usadas por seus clientes durante a vigência do projeto.
Dono de uma doceria, Lucas Forte disse que a presença de gente circulando na região aumentou muito após a chegada do metrô que, por sua vez, atraiu muitos escritórios. “Mas não vimos novos espaços para os pedestres. Esse teste vai escancarar qual é a prioridade da cidade”.
Vizinho da doceria, o chaveiro Marcos Rogério Campos não está muito contente com a novidade porque, segundo ele, vai impactar diretamente o seu negócio. “O meu cliente vem de carro, estaciona na zona azul e vai embora rápido. Tenho um fluxo bom de gente assim. Agora nesses 35 dias vou perder tudo isso”, reclamou.
Os minilounges serão espaços de convivência e não uma extensão de bares, cafés e restaurantes da rua Pinheiros. Os comerciantes não poderão vender seus produtos às pessoas que estiverem nos locais.
Batizado de “Caminhar Pinheiros”, o projeto vai monitorar os impactos da intervenção no trânsito e na rotina dos pedestres. Um abaixo-assinado online será disponibilizado para a população local aprovar ou não a extensão da medida por toda a rua dos Pinheiros.
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