RM de Belo Horizonte sofre com falta do transporte sobre trilhos

Até os anos 1970 os municípios da região eram interligados por trens, mas decadência das ferrovias deixou um espaço que não foi suprido pelo sistema de metrô

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Fonte: ALMG  |  Autor: Maria Célia Pinto  |  Postado em: 05 de novembro de 2018

Estação Central de BH. ANTT diz que não há projeto

Estação Central de BH. ANTT diz que não há projetos em vista

créditos: Willian Dias/ Arquivo ALMG

Às terças-feiras, a estudante de biologia Ana Flávia Mesquisa, de 22 anos, sai de casa no Bairro Santa Mônica, na região de Venda Nova, pega uma carona com o avô até a Estação Vilarinho do metrô e em aproximadamente 50 minutos está no campus da PUC-Minas. Já às quintas-feiras, ela deixa o estágio na UFMG, na Pampulha, e caminha até a Avenida Antônio Carlos, onde toma dois ônibus e, uma hora e meia depois, chega ao mesmo destino. Pagando mais, esperando mais e viajando com menos conforto.

A rotina da estudante explicita a diferença que o transporte sobre trilhos pode fazer em uma metrópole. E ilustra a dificuldade de milhares de moradores da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), que aguardam há anos a ampliação do metrô. Muitos deles nem sabem que até o início dos anos 1970 a região estava toda conectada por trens.

“O ônibus demora a passar, demora no percurso pelo Centro e é ainda mais cheio. No metrô eu sento mais rápido, consigo ler e estudar melhor, sem paradas bruscas”, compara Ana Flávia, sem deixar também de criticar: “O Metrô de BH não liga as regiões. E se não fosse pela carona do meu avô, teria que pegar um ônibus suplementar, cheio e demorado, até a estação”. 

Ana Flávia conta que está sempre atenta às notícias sobre o metrô. “Lembro das perfurações na Praça Sete, que me encheram de esperança. Com a logística de trânsito ruim hoje, com muitos carros, poluição e barulho, o sonho de todo belo-horizontino é ter um metrô ligando toda a cidade”, diz.

Ana Flávia e "o sonho de ter um metrô ligando a cidade". Foto: Ricardo Barbosa

Transporte em pauta
Na Assembleia Legislativa de Minas Grais (ALMG), esse tema também está em pauta. O metrô foi discutido em eventos como o Debate Público Minas de Volta aos Trilhos, em 2017, e o Fórum Técnico Mobilidade Urbana - Construindo Cidades Inteligentes, em 2013.

Em junho passado, ainda sob o impacto da greve dos caminhoneiros, o Legislativo criou a Comissão Extraordinária Pró-Ferrovias Mineiras, com o propósito de fomentar debates sobre o transporte ferroviário de passageiros. 

Uma história ligada ao trem
“O trem chegou em Belo Horizonte antes mesmo da própria cidade. Na década de 1890, foi construído um ramal na Estrada de Ferro Central do Brasil, de Sabará a BH, justamente para transportar materiais para a construção da capital, inaugurada em 1897”.

Nos anos de 1960, auge das ferrovias, além de ligar estações como as atuais do metrô, os trilhos conectavam diversas cidades vizinhas. Eram 523 km de malha em 1969, ligando atuais 19 municípios da RMBH, mais nove do Colar Metropolitano. 

Metrô de BH vive impasse
Meio século após o auge das ferrovias, a RMBH tem apenas 28,1 km nos quais circulam trens diários de passageiros do metrô, que chega somente até Contagem. Mesmo restrito, o metrô recebe 200 mil passageiros por dia útil.

Em audiência da Comissão Pró-Ferrovias sobre o transporte de passageiros, realizada na ALMG em agosto passado, as indefinições sobre a gestão do metrô foram apontadas como a principal causa da paralisação dos investimentos em BH.

Isso porque não avançaram as negociações para que a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) transferisse a operação da malha à Metrominas, agência que engloba BH e Contagem. 

Duas outras propostas foram feitas desde 2015, uma pela Metrominas e outra pelo governo Temer, ambas sem acordo. A Superintendência de Belo Horizonte da CBTU reforça que a liberação de recursos orçamentários não ocorre principalmente em função desse impasse na transferência do sistema para o governo do estado.

Novas linhas
Com o controle do metrô indefinido, estudos e projetos foram desenvolvidos tanto pela CBTU quanto pela Metrominas. Eles incluem a reforma da atual Linha 1 (Eldorado-Vilarinho) e as Linhas 2 (Calafate-Barreiro/Tereza Cristina-Santa Tereza), 3 (Pampulha-Savassi) e 4 (VLT para Betim).

As obras da linha do Barreiro chegaram a ser iniciadas na década passada. Até mesmo a primeira estação, a Amazonas, começou a ser construída. Mas a falta de recursos pôs fim a essa promessa.

As perspectivas também não são melhores. Na agenda da ANTT, não há projetos que tratem de transporte de passageiros em Minas. E a Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer) não tem nenhuma encomenda de carros de passageiros para 2019.

*Esta reportagem do site da ALMG faz parte de uma série especial sobre as ferrovias mineiras. Para ler o texto na íntegra, clique aqui.

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