Com apelo sustentável, agências especializadas em entregas de bicicleta têm convencido pessoas a trocarem os serviços do motoboy pelos do “bikeboy” - que faz a mesma entrega por um preço equivalente e sem poluir.
Segundo projeção de Leonardo Lorentz, sócio-gestor da Carbono Zero Courier, esse mercado tem potencial para crescer até cem vezes nos próximos cinco anos.
A Carbono Zero começou a operar, em 2010, com dois ciclistas atuando no centro da capital paulista. Hoje, conta com 204 profissionais que fazem mais de 70 mil entregas por mês em toda Grande São Paulo e na Baixada Santista.
Cargueiras
As bicicletas comuns ganharam reforço de cinco modelos cargueiros (com compartimento que transporta até 95 kg), seis elétricos, 11 scooters e um furgão, também movidos a eletricidade. Para 2019, já foram encomendadas mais 30 scooters, por cerca de R$ 23 mil cada uma.
Os veículos ajudam a transportar encomendas pesadas ou que precisam ser entregues com rapidez em lugares mais distantes. Além disso, servem para passar segurança às empresas que contratam a Carbono Zero pela primeira vez.
Muitas resistem a acreditar que os ciclistas darão conta de fazer as suas entregas com a mesma agilidade dos motoboys. “Às vezes, começamos com quatro bikes e uma scooter. Depois de uns meses, tiramos a scooter, e o cliente nem sente falta”, diz Leonardo.
No quesito rapidez, os motoboys levam vantagem em trajetos a partir de oito quilômetros. Já em percursos curtos e planos, os “bikeboys”, que pedalam, em média, 80 km por dia, podem ser tão ou mais eficientes.
Em 2016, o 1º Tabelião de Notas e Protesto de Barueri, na Grande São Paulo, substituiu o trabalho que 13 motos faziam por 8 bicicletas. A maioria das entregas é feita na própria região, onde o ciclista se desloca e estaciona com mais facilidade. “Temos o propósito de contribuir com a preservação do ambiente e essa nos pareceu uma boa iniciativa”, afirma o tabelião Ubiratan Guimarães.
Cartório, escritório de advocacia, de contabilidade: todo negócio onde circula muito papel é um ótimo cliente, diz Leonardo - outros destaques são empresas de delivery e ecommerces.
Metade dos clientes da Carbono Zero são pessoas físicas, mas isso representa apenas 1% do faturamento da companhia, que, em 2018, deve chegar a R$ 3 milhões.
O que faz a diferença nesse tipo de negócio é escala, segundo Leonardo. Ele conta que só nos últimos quatro meses a empresa começou a ter algum lucro. A expectativa é manter a margem entre 5% e 8% nos próximos anos. A empresa leva de tudo: documentos, alimentos, produtos e até cocô de cachorro (presta serviço para um grande laboratório veterinário).
Mesmo o nicho parecendo promissor, é preciso planejar muito antes de sair montando uma empresa e comprando bicicletas, segundo Henrique Teixeira, analista de negócios do Sebrae-SP. “Tem que conhecer os concorrentes, como operam, quais as forças e fraquezas deles e do que os clientes precisam”, diz.
Ter pelo menos 40% de funcionários fixos, segundo Leonardo, é importante para garantir o serviço - na empresa, 60% dos “bikeboys” prestam serviço como microempreendedores individuais e são donos das bicicletas que guiam. Em dias chuvosos, por exemplo, o número de autônomos trabalhando cai cerca de 50%.
Testes na bike
Para pedalar com a empresa, todos os ciclistas são submetidos a um teste escrito e um prático, no qual precisam pedalar por 32 km, tirando fotos de pontos específicos, dentro de um intervalo de tempo combinado.
Em São Paulo, é preciso também levar em consideração nos custos o alto índice de roubos de bicicletas. Na Carbono Zero, são, em média, duas por mês, principalmente na avenida Sumaré, no largo da Batata e na marginal Pinheiros.
Na É Pra Jah, montada há três meses pelo economista André Beck, a estrutura é enxuta. Na verdade, a empresa é ele: lida com os clientes, administra e pedala. Em 2013, quando trabalhava no mercado financeiro, fundou um negócio do tipo com um amigo. Chegaram a ter cinco ciclistas contratados, mas, em 2017, André resolveu sair, principalmente porque o sócio queria que ele pedalasse menos para administrar mais.
Até pensou em desistir do ramo, mas, no começo deste ano, viajou para Nova York e viu que boa parte das entregas é feita de bike, o que deu a ele um novo ânimo.
Hoje, ele entrega frutas pela manhã, comida na hora do almoço, além de fazer serviços avulsos. Quer ir crescendo aos poucos para conseguir manter a eficiência do serviço.
“A cidade está ficando intransitável. É um negócio que tem muito potencial. Mas sei que não vou virar nenhum Bill Gates fazendo entrega de bicicleta. Se quisesse ganhar muito dinheiro, voltava para o mercado financeiro.”
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