Trabalho com bicicleta dá nova vida a refugiado venezuelano

O jovem Francisco di Salvatore deixou seu país, onde passava fome, e em São Paulo ganhou uma oportunidade de trabalho na Courrieros

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Fonte: Folha de S. Paulo  |  Autor: Ana Paula Franzoia e Cristiano Cipriano Pombo  |  Postado em: 24 de outubro de 2018

Negócio social realiza delivery com bikes em São P

Negócio social realiza delivery com bikes em São Paulo

créditos: Ecolivey Courrieros

A vida do venezuelano Francisco di Salvatore, de 29 anos, mudou completamente nos últimos meses. Por causa da situação política e econômica de seu país, teve que deixar a capital Caracas, fugitivo, e deixar o país pela fronteira do país com o Brasil. 

Ao fugir, colocou em ação o que tinha planejado: tentar a vida em São Paulo. Tanto foi assim que, mesmo magro e com a saúde frágil, atravessou a fronteira a Boa Vista e, dois dias depois, já estava na capital paulista. 

De acordo com ele, foi na cidade que escolheu para tentar uma nova chance de vida que ele sentiu abraçado. "Conhecia dois amigos, que me receberam aqui. E, o mais legal, foi que eu procurava algo mais saudável para fazer, como andar de bicicleta, quando descobri a Courrieros", diz ele, que atua como entregador na empresa e ainda dá aulas de espanhol. 

Para Di Salvatore, foi uma das melhores coisas que aconteceu em sua vida conhecer André Biselli, de 28 anos, e Victor Castello Branco, de 29 anos, criadores da Ecolivery Courrieros, negócio social que realiza delivery com bikes em São Paulo e é uma das iniciativas finalistas do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2018. 

Leia a seguir trechos do depoimento de Francisco di Salvatore:

"Eu tinha uma loja de iPhones em Caracas, com meu irmão, e uma boa condição de vida. Mas inevitavelmente, por causa da política do governo, o negócio foi fechado e a situação ficou difícil. Minha situação foi ficando ruim, porque não tínhamos o que comer. Não tinha emprego (...) 

Teve dia que eu, um jovem que estava acostumado com uma evolução de estudos, economia, trabalho e família, tive que passar com um pedaço de pão. Emagreci muito, estava desnutrido, estava morrendo. Sabia que tinha que sair de lá. Tentar algo diferente. Queria uma vida diferente. E tinha estudado vir para São Paulo, que era um local conhecido pelo trabalho. 

Cheguei pelo Brasil por terra, no dia 15 de agosto [de 2017], atravessando por Roraima, chegando a Boa Vista. De lá, peguei um voo e cheguei a São Paulo no dia 17. Quando cheguei aqui, queria algo que pudesse melhorar minha vida, algo saudável, e um trabalho que aceitasse a minha condição de refugiado. Procurei por lojas de bicicleta. E a primeira que apareceu foi a Courrieros. 

Fiz contato pelo Instagram, para marcar uma entrevista, explicando minha condição de refugiado, que não tinha muitos documentos. E aí conheci o André Biselli e o Victor Castello Branco, da Courrieros, que me acolheram com uma família. 

Estou trabalhando no que gosto, e gosto muito, porque, quando eu pedalo, observo a cidade, penso, bato um papo comigo mesmo, me conheço mais.  

Aqui as pessoas estão em um movimento muito rápido, de respeito ao trabalho, de chegar rápido ao trabalho, o que muitas vezes faz com que não enxergue o pedestre, o ciclista e a cidade. E a bicicleta leva a um estilo de vida mais saudável para a cidade. 

Não importa o que eu ganho. Porque, quando se conhece outra economia, é possível pensar de outro jeito. Então R$ 50, R$ 100, R$ 20, por mais que aqui não parece muito aqui, na Venezuela é muito dinheiro. E hoje consigo ajudar a minha família, os meus pais, que ficaram na Venezuela.  

Pouco a pouco sei que as portas vão se abrir, fechar, mas isso é o que importa, que você sempre esteja pesquisando uma porta com uma saída, e com saídas positivas. E acho legal que se essa porta seja aberta com uma bike."

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