Os trens que nos seduzem

Trilhos seguem no imaginário do brasileiro e são usados como motes em campanhas eleitorais. Mas ficam nas estações, em longas esperas. Leia o Editorial do Mobilize

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil  |  Postado em: 20 de outubro de 2018

TGV Ouigo, na França

TGV Ouigo, da SNCF, na França

créditos: Christophe Masse

Algumas semanas atrás, nosso diretor Ricky Ribeiro criticou, em seu boletim de rádio, a desfaçatez com que os candidatos aos cargos executivos usam as ferrovias e metrôs como instrumentos para (re) eleger-se. O caso mais emblemático é o do metrô de São Paulo, que avança aos solavancos, a cada quatro anos, e depois volta a hibernar até o próximo pleito. Prova disso é a inauguração, depois de 20 anos de obras, da Linha 5 Lilás, de duas estações da Linha 4 Amarela, e do Trem Expresso para o aeroporto de Cumbica. Outro exemplo é um certo Trem Intercidades, que renasce de tempos em tempos, a cada campanha para o governo paulista. 

De trem em trem, lembramos, ainda, do lendário Trem de Alta Velocidade, que ligaria o Rio de Janeiro a São Paulo em  apenas 100 minutos. A ideia foi lançada nos anos 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso, atraiu empresas estrangeiras, mas foi abortada em função da crise financeira internacional de 1997. Foi retomada em 2009 pelo governo Lula e ganhou forma em 2011, já no governo de Dilma Roussef, com a criação da Empresa de Transporte Ferroviário de Alta Velocidade (ETAV). Mas, em agosto de 2013 o empreendimento foi suspenso "sine-die" pelo governo federal.

Apesar disso, a iniciativa entusiasmou o setor ferroviário e gerou estudos para outros trens-bala: o Brasília-Anápolis-Goiânia, Belo Horizonte-Curitiba e o TAV Campinas-Triângulo Mineiro.  Todos com velocidades programadas entre 180 km/h e 350 km/h. Desse movimento só resta a atual Empresa de Planejamento e Logística (EPL), que hoje se dedica a projetos de transporte de cargas. O trem rápido Rio-SP continua no site da empresa, mas sua retomada depende agora de uma decisão do futuro governo federal.

O Brasil tem hoje pouco mais de 30 mil km de ferrovias e cerca de 5 mil km de trilhos abandonados, em diversos pontos do país. Apenas para comparação, a Alemanha, com uma área equivalente à do estado de Mato Grosso do Sul, conta com 43 mil km de ferrovias, dos quais quase 20 mil são eletrificados. 

Trens intercidades para passageiros e cargas podem reduzir o tráfego de automóveis e caminhões, não apenas nas rodovias, mas também nas avenidas e ruas de todas as cidades brasileiras. É um bom desafio para o próximo governo.

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