O mercado de bicicletas continua crescendo, apesar dos impactos da oscilação cambial. Para fabricantes, maior incentivo à mobilidade, melhora de qualidade do produto nacional e fidelidade do consumidor são algumas das razões para os bons resultados. “O tema bicicleta está crescendo e faz com que as pessoas experimentem o item, fomentando o mercado e forçando o poder público a investir em infraestrutura, que é um gargalo para a prática do modal”, avalia o gerente de marketing da Caloi, Eduardo Rocha.
De acordo com a Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), foram produzidas 97,7 mil bicicletas no Polo Industrial de Manaus (PIM) em agosto, volume 35,2% superior em relação ao mesmo mês do ano passado. Na comparação com julho, a produção cresceu 45,8%. Devido ao bom desempenho, a entidade revisou sua projeção de crescimento de 9% para 15% em 2018.
O gerente geral da Blue Cycle Distribuidora, Juliano Xavier, acredita que a bicicleta tornou-se uma prioridade para muitos consumidores. “O mercado é prejudicado pela queda do consumo, mas quem gosta de bike faz um esforço. O crédito para motocicleta e carro ainda é acessível, mas a pessoa escolhe a bicicleta. É uma paixão.”
Produção nacional
Os fabricantes também destacam que há uma demanda por produtos com maior valor agregado e as bicicletas nacionais tornaram-se opções com a mesma qualidade das importadas, mas com um preço menor. “A indústria está evoluindo. Antes a oferta era importada, agora cresceu o número de fabricantes nacionais que conseguem entregar um produto com qualidade por um preço mais acessível. As peças são similares, o que diferencia é o design”, afirma o diretor comercial da Audax, Túlio Bezerra.
Dentro deste contexto, a próxima aposta do setor é a bicicleta elétrica. “Na Europa, esse produto já uma realidade. No Brasil, o problema é o preço, estamos trabalhando para baratear. Queremos atingir por volta de R$ 5 mil.” Ele acredita que além do preço, outra barreira é a prestação de serviços para o veículo. “Bicicleta elétrica é algo muito sério, não dá para brincar na questão de assistência técnica, troca de peças. É necessário trabalhar apenas com empresas homologadas”, explica o gerente de marketing da Caloi.
O CEO da Sense, Henrique Ribeiro, destaca a necessidade do consumidor entender o uso da bicicleta elétrica. “É preciso provar que é para o esporte, contribui para quem usa em terreno montanhoso, por exemplo. Não é coisa de preguiçoso, como alguns imaginam. É preciso pedalar para funcionar”, esclarece.
Câmbio e greve
Devido ao alto percentual de insumos importados usados na fabricação dos produtos, a valorização do dólar ante o real causa preocupação. “É direto na veia, reduz a margem instantaneamente”, conta o diretor da Isapa, Daniel Duek. "Tentamos repassar aos poucos para o mercado.”
Ribeiro também externa essa apreensão: “Dólar é um problema. Temos feito o esforço para o preço continuar cabendo no bolso do brasileiro.”
Já Xavier acredita que a situação está sob controle: “Essa escalada do dólar assustou, mas está controlada. O nosso desempenho está muito bom, até acima do esperado.”
Outra situação que gerou consternação para a indústria foi a paralisação dos caminhoneiros, em maio: “A greve atrapalhou, perdemos uma semana útil. Todo o setor ficou preocupado, mas não comprometeu o ano”, avalia Xavier.
Bezerra conta, porém, que os efeitos da paralisação não foram tão graves: “Sofremos na logística e nas entregas, mas não muito. Estar em Manaus é sempre um desafio, por não estar tão perto dos grandes centros. Mas vale a pena pelos incentivos à produção.”
Já Ribeiro revela que, apesar da greve ter afetados os estoques, trouxe um efeito colateral positivo: “Por conta da necessidade de mobilidade em meio à crise de combustíveis, a demanda por bicicletas acabou aumentando.”
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