Com cuidado e atenção, eles andam pela calçada e procuram pelo desnível da rua para iniciar a travessia. Em seguida, batem com força o bastão de ferro no chão na tentativa de chamar a atenção de motoristas e outros caminhantes.
Se para quem enxerga o simples ato de atravessar uma rua pode ser visto como um desafio em Belo Horizonte, para os cegos o movimento corriqueiro é considerado uma atividade de alto risco. Na sequência da série “Eu respeito a faixa de pedestre”, as dificuldades enfrentadas pelos deficientes visuais nas travessias vêm à tona.
Como guias nessa viagem sensorial pelas ruas de BH estão quatro deficientes visuais que conhecem as armadilhas das vias urbanas da cidade. No primeiro passeio, pelo Hipercentro, Maria Cecília de Souza, de 45 anos, José Nunes, de 52, e Luzia Barbosa, de 46, expõem os dramas dos mais de 47 mil cegos existentes em Minas – conforme balanço parcial do Censo 2010.
“É impossível atravessar sem a ajuda de alguém, principalmente no Centro”, diz José Nunes, que vende panos e cadarços pelas ruas da Região Central. Sempre acompanhado da esposa, Maria Cecília, e da amiga Luzia Barbosa, ele revela que a cordialidade dos demais pedestres nem sempre está presente. “Alguns ajudam, outros não. Por isso, temos que ficar batendo a bengala para convocar esse auxílio”, conta.
Para garantir a travessia segura dessas pessoas, Maria Cecília dá as dicas a quem quiser ajudar. “Sempre que uma pessoa cega estiver na calçada esperando para atravessar, ofereça ajuda, mas espere até ela ser aceita. Não agarre o cego pelo braço e, muito menos, pela bengala. Deixe que ele segure em você, e lhe diga o que tem pela frente”, explica Maria Cecília, que também vende objetos domésticos nas ruas.
Do Centro de BH para as ruas do Bairro Floresta, na Região Leste, o novo guia se chama Roberto Soares e tem 32 anos. Cego desde os 18, quando perdeu a visão devido a uma doença, ele está sempre próximo à Avenida do Contorno. Anda de um lado para o outro e, às vezes, se arrisca sozinho.
A coragem vem do apurado ouvido. “Quando chego na beira da calçada, aguardo o barulho dos carros ficar mais fraco. Isso mostra que eles pararam por causa do sinal e que posso atravessar. Mas tudo depende do lugar e da hora, pois assim consigo me orientar se dá tempo ou não de chegar ao outro lado”, diz.
No domingo (4), no entorno do Mercado Central, faixas anunciavam a campanha de respeito ao pedestre que a Prefeitura de BH começa nesta semana naquela região e no entorno da Rodoviária, conforme o prefeito Marcio Lacerda informou em entrevista exclusiva na edição de domingo do Hoje em Dia.