Ativistas de São Carlos (SP) criticam plano de mobilidade da cidade

Proposta da prefeitura sugere ampliar espaço para carros no centro da cidade paulista. ONGs pedem mais transporte público e mobilidade ativa

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Regina Rocha/Mobilize Brasil  |  Postado em: 20 de agosto de 2018

São Carlos: excesso de veículos pede investimento

São Carlos: excesso de carros pede mobilidade sustentável

créditos: Regina Rocha/Mobilize Brasil

Moradores, urbanistas, professores universitários e organizações da sociedade civil de São Carlos (SP) estão organizando ações contra a proposta do prefeito Airton Garcia Ferreira (PSB) de ampliar os espaços para carros particulares na região central da cidade. No coração da polêmica estão a desativação de um calçadão exclusivo para pedestres, a construção de uma nova via e estacionamentos em uma antiga fábrica, além da construção de um terminal de ônibus em uma praça que é o principal ponto de encontro da população.

São Carlos é uma das cidades paulistas que cresceu graças ao ciclo do café e a chegada do transporte ferroviário. E até os anos 1960, a estação ferroviária era a principal porta de entrada da cidade, para cargas e passageiros. No mesmo período, a cidade contava com uma rede de bondes, que atendia à toda a área urbanizada. Hoje o município tem cerca de 235 mil habitantes e uma frota de 181 mil veículos. Com duas universidades públicas, indústrias e empresas de tecnologia, a cidade recebe diariamente milhares de trabalhadores e estudantes que vivem nas localidades vizinhas e nos vários condomínios da região, com forte impacto no trânsito local, tanto no meio urbano como na rodovia Washington Luís. Daí, a necessidade de uma revisão na política de mobilidade adotada pela cidade. 

A oposição aos planos da prefeitura ficou muito clara durante o evento "Mobilidade Urbana: como São Carlos chegara ao futuro" organizado pela Defensoria Pública do Estado de Sao Paulo e pela Universidade Aberta da Terceira Idade e realizado no dia 10 de agosto no auditório do Paço Municipal. Durante o encontro, o secretário Municipal de Transporte e Trânsito, Antonio Clóvis Pinto (Coca) Ferraz, anunciou um financiamento de cerca de um milhão de reais do governo federal para a elaboração do plano de mobilidade urbana da cidade, e para que a cidade possa atender à exigência da Lei 12.587, que define a política nacional de mobilidade urbana. 

Proposta carrocrata
O plano apresentado pelo secretário Coca Ferraz desagradou aos presentes pela prevalência de propostas que beneficiam sobretudo aos motoristas de veículos privados. São novas vias, mais áreas para estacionamento, e novas conexões para teoricamente melhorar o fluxo do trânsito. Há também algumas ciclovias  com traçados que não atendem às demandas dos cicloativistas saocarlenses e pequenas intervenções no transporte coletivo. Ferraz, que é professor e pesquisador na área de transportes públicos, explicou  - no início de sua apresentação  - que embora conheça outras formas de mobilidade, de "cultura europeia", a proposta atual procura atender às demandas reais da comunidade de São Carlos. 

Na visão de Adilson Marques, da Universidade Aberta da Terceira Idade, e da agente da Defensoria Soraya Mattar Gonçalves, as propostas atendem especialmente aos interesses de comercantes da cidade, que desejam abrir mais espaço para a circulação dos carros de seus clientes. Para Adilson, que defendeu a implantação de um sistema de bondes modernos (VLTs), o plano da prefeitura peca justamente por estar "na contramão do que é preconizado pela Política Nacional de Mobilidade Urbana, que é a prioridade ao pedestre, ao ciclista e ao transporte público". 

O exemplo de Volta Redonda
Durante o encontro, o editor do Mobilize, Marcos de Sousa, citou o exemplo da cidade de Volta Redonda (RJ), que tem uma população semelhante à de São Carlos e que recentemente fez uma experiência com a melhoria do transporte público para dinamizar o comércio no centro da cidade: durante os meses do final de 2017 a prefeitura criou uma linha circular gratuita com ônibus elétricos para facilitar a chegada dos clientes aos pontos comerciais. Com o atrativo do ônibus silencioso e sem emissões, a linha atraiu o público que normalmente utiliza o carro em seus deslocamentos, melhorou as vendas do comércio e reduziu os congestionamentos na área central. O sucesso levou a prefeitura a adquirir os ônibus elétricos e implantar a linha definitiva.

 


Proposta de rede cicloviária desenvolvida em reuniões com ciclistas e especialistas em mobilidade


Professores, ativistas e outros presentes defenderam a ideia de que a prefeitura reveja seus planos,  na direção de projetos que melhorem o transporte público e estimulem a mobilidade ativa, a pé e por bicicleta. 


No dia seguinte, um sábado, a equipe do Mobilize realizou uma oficina sobre a Campanha Calçadas do Brasil + 2018 e um passeio para avaliar a caminhabilidade na área central da cidade. Os resultados mostraram um bom cuidado com calçadas e sinalização, mas moradores reclamaram que a mesma atenção não é dada às calçadas dos bairros são carlenses. 
 

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