Pedestre enfrenta armadilhas nas calçadas de Ribeirão Preto (SP)

Em 2018, foram 1.361 notificações emitidas pela Prefeitura, ou, oito ao dia, o dobro do ano passado. Audiência pública vai debater o tema nesta quarta-feira (25)

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Fonte: A Cidade  |  Autor: Cristiano Pavini  |  Postado em: 25 de julho de 2018

Lixo e até falta de calçadas em Ribeirão Preto (SP

Lixo e até falta de calçadas em Ribeirão Preto (SP)

créditos: Weber Sian/ A Cidade

 

No meio da calçada tinha uma árvore. Ou um poste, um monte de entulhos, piso quebrado, desníveis no solo, mato alto, terra batida... ou todas essas irregularidades juntas. Às vezes então a calçada correta, a que deveria estar lá, nem sequer existe.   

Essa é a realidade que os pedestres de Ribeirão Preto (SP) enfrentam, inclusive com desrespeito aos locais exclusivos para suas travessias. Somente este ano, de janeiro a junho, foram 1.361 notificações emitidas pela Prefeitura cobrando providências dos proprietários dos terrenos, segundo a lei os responsáveis pela manutenção do passeio público.   

Em média, foram oito notificações ao dia, o dobro em relação ao ano passado, que teve quatro notificações diárias. A multa pode chegar a R$ 1, 5 mil reais. Em muitas situações, porém, é o próprio poder público que desrespeita a legislação.  

Nesta quarta-feira (25), a partir das 18h, a Prefeitura realizará audiência pública para tratar especificamente sobre calçadas e acessibilidade. O objetivo é atualizar o Código de Obras, padronizar exigências, aumentar a fiscalização e deixar, no próximo Plano de Mobilidade, os pedestres como prioridade, como determina a lei. A audiência será na Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (Aeaarp).  

Segundo o secretário de Planejamento, Edson Ortega, será necessário à cidade "ter um plano de ação, com metas, prazos e trechos prioritários para a adequação das calçadas".  

Viagens a pé
Em Ribeirão, segundo estimativas da Prefeitura, 22% das viagens urbanas são feitas a pé. Ou seja: os pedestres são responsáveis por um a cada cinco deslocamentos no município.   

A Secretaria de Obras vem realizando um levantamento do estado de conservação das calçadas, que no município correspondem a 3 mil km de vias. A equipe de reportagem do jornal Cidade percorreu Ribeirão de norte a sul e constatou, em praticamente todos os bairros, irregularidades.  

Segundo Ortega, a regra prevista no Código de Obras é que as calçadas tenham 1,20 m de passagem livre ao pedestre (em casos específicos, essa medida pode variar).   

Entulho e material de obra bloqueiam o caminho do pedestre; assunto de audiência em Ribeirão Preto. Foto: Weber Sian/A Cidade 

"As calçadas estão na entrada das casas, mas são do povo", ensina a professora aposentada Elisabeth Martha Castanho, de 73 anos. Ela caminha, diariamente, entre 30 minutos e uma hora, e precisa driblar as irregularidades. "Já vi gente tropeçar e cair", diz.  

Há um ano e meio, a jornalista Daniela Antunes trocou o carro pelas pernas. Vendeu o automóvel e passou a voltar do trabalho a pé, percorrendo uma distância aproximada de 2,5 km. Apesar das dificuldades no trajeto pelas calçadas irregulares, não se arrepende.   

"A pé, você vê mais gente, tem a sensação de liberdade, sente a cidade. Vejo o pôr-do-sol, ouço um pássaro cantando no caminho", diz. Ela passa, porém, por trechos sem calçamento, com mato alto ou piso quebrado, e iluminação precária.  

"A cidade, infelizmente, não é feita para pedestres. É feita para carros", diz Daniela, que já reclamou no telefone 156 da Prefeitura, mas até o momento não teve suas demandas atendidas. "Eu não tenho problema de mobilidade. Mas e quem tem?", questiona.  

Rotas de caminhada
Segundo o secretário Edson Ortega, o Plano de Mobilidade em construção irá prever a viabilização de "rotas de caminhada" em trechos com grande fluxo de pessoas, para facilitar a locomoção para trabalho, lazer, mesmo entre o local de estacionamento do carro e o destino da pessoa. Esses locais terão diretrizes para estimular as viagens a pé, como arborização no entorno e acessibilidade, afirmou.  

Também o calçadão da cidade, na região central, estará em discussão. Segundo a Prefeitura, o uso das calçadas, em especial do calçadão, para "manifestações culturais, políticas, esportivas, religiosas e de lazer (estátua viva, comícios, skate, pregação), além de ambulantes, será debatido no Código de Obras e Lei do Mobiliário Urbano.  

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