Especialista critica atraso do Brasil no controle às emissões do diesel

Coordenador de organismo internacional destaca a situação de SP, cuja frota diesel é a maior geradora de poluentes da cidade. E condena a demora na adoção do Euro 6

Notícias
 

Fonte: Palavra de Especialista / Mobilize Brasil  |  Autor: Olimpio Alvares  |  Postado em: 14 de junho de 2018

Ônibus articulado com motor diesel em terminal de

Ônibus articulado com motor diesel em terminal de São Paulo

créditos: Cesar Ogata / Secom SP


Assista à apresentação de Cristiano Façanha
- responsável, entre outros, pelos estudos do International Council on Clean Transportation (ICCT) para o mercado automotivo brasileiro. A breve palestra explica aspectos relevantes da polêmica que cerca a incompreensível resistência das autoridades ambientais brasileiras em avançar para a tecnologia diesel Euro 6.

 

 

Depreende-se da apresentação do ICCT, que não há definitivamente razões de qualquer espécie para que o Conama/Ibama continue procrastinando a introdução da tecnologia Euro 6 nos veículos pesados novos. Por pressão dos fabricantes de veículos, que almejam continuar despejando no mercado brasileiro uma tecnologia defeituosa, ineficiente e cara (Euro 5 ou Proconve P7), impera no nível federal o injustificado adiamento reiterado de obrigações e urgências para com a saúde pública e o meio ambiente. A tecnologia Euro 6 tem um filtro que retira quase a totalidade do material particulado cancerígeno da atmosfera e corrige as altíssimas emissões de NOx dos atuais Euro 5.

 

E se o avanço da produção de pesados para Euro 6 não ocorrer até no máximo 2020, como acaba de decidir a Índia, que venceu a queda de braço com as montadoras, a lei de redução de emissões de ônibus urbanos do Município de São Paulo será, outra vez, descumprida. Os brasileiros não aguentam mais esse jogo de exacerbada inadimplência ambiental.

 

Além disso, como ressaltou o representante do ICCT em sua apresentação, o Brasil é o último dos grandes blocos de países a avançar para Euro 6. Causa grande perplexidade saber que montadoras brasileiras já fornecem caminhões e ônibus no padrão Euro 6 para o Chile e o México melhorarem a qualidade de vida dos chilenos e mexicanos.

 

Aqui as montadoras estão preocupadas apenas em manter o baixíssimo padrão de performance ambiental de seus veículos - aliás, esse é um nicho comercial muito lucrativo para os fabricantes brasileiros.

 

Por outro lado, em São Paulo, no nível estadual - sempre mais próximo e preocupado com os graves problemas da poluição do ar, que mata cerca de 17 mil pessoas por ano no Estado - houve recentemente forte pressão corpo-a-corpo sobre as autoridades ambientais constituídas, por parte de um grupo organizado, formado por especialistas de larga experiência e agentes do Ministério Público Federal e Estadual, e das organizações da sociedade civil, lideradas pelos atuantes Instituto Saúde e Sustentabilidade e Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam).

 

Embora tardiamente, a Secretaria de Estado do Meio Ambiente foi sensível a essas justas demandas externas e iniciou um processo interno de auto-crítica e tomada de decisões corretas, no sentido do avanço para Euro 6, o mais breve quanto possível.

 

O então Secretário de Estado do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e agora o atual secretário Maurício Brusadin, defenderam o avanço imediato para o Euro 6. Brusadin foi ainda mais longe, pelo menos no papel: como presidente do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) emitiu uma importante circular que marca o posicionamento de São Paulo, recomendando aos gestores de transporte público de passageiros do Estado, a compra exclusiva de veículos com tecnologia Euro 6.

 

Infelizmente, ainda não temos nenhuma notícia de decisão de compra de veículos Euro 6 por parte da Empresa Metropolitana de Transporte Urbano (EMTU) ou de outras empresas estatais, o que seria um bom começo e modelo para todo o país.

 

*Olímpio Alvares é engenheiro mecânico pela Escola Politécnica da USP, diretor da L'Avis Eco-Service, especialista em transporte sustentável, inspeção técnica, emissões veiculares e poluição do ar. Atuou durante 26 anos na área de controle de emissões veiculares da Cetesb, concebeu o Projeto do Transporte Sustentável do Estado de São Paulo, o Programa de Inspeção Veicular e o Programa Nacional de Controle de Ruído de Veículos. É fundador e secretário executivo da Comissão de Meio Ambiente da ANTP; diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Sobratt; assistente técnico do Proam; consultor do Banco Mundial, do Banco de Desenvolvimento da América Latina, (CAF) e entre outros órgãos públicos e organizações da sociedade civil, como o Mobilize Brasil.

 


Leia também:
Caminhões no Brasil emitem mais carbono que todo o setor de energia
Maioria dos paulistanos (76%) apoia medidas de restrição ao uso do carro
Como os sinais de trânsito priorizam os carros e desencorajam o caminhar
No Brasil, 1/3 dos trilhos ferroviários estão abandonados

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário