Qual é a mais brilhante, a mais inspiradora e promissora tecnologia de transporte? Bem, há muitos candidatos... Temos o carro autônomo e drones robustos o suficiente para poder transportar pessoas. E o bilionário Elon Musk vem se preparando para perfurar túneis de hyperloop. Quando se trata de mover humanos, o futuro parece estar se fundindo com a ficção científica.
Mas, visto assim "do alto", a forma mais interessante de tecnologia de transporte tem mais de 100 anos - e deve estar lá na sua garagem. É a bicicleta, o futuro do transporte, que tem duas rodas finas e um guidão.
Bikes compartilhadas
Vamos além: as novas tecnologias potencializaram o uso deste singelo transporte sobre duas rodas ao possibilitar desenvolver o modelo de compartilhamento de bicicletas. Você pega uma bike numa estação, usa-a por cerca de uma hora e depois devolve em qualquer outra estação da rede. Nos anos 1960, esse conceito foi tentado, só que na época falhou porque ninguém ainda conseguia rastrear o trajeto das magrelas.
Hoje, isso já foi resolvido com tecnologia de smartphones: GPS, Bluetooth, RFID (sinais de rádio) e sistemas de pagamento móvel. E o compartilhamento de bicicletas recuperou e muito nas pessoas o interesse por pedalar: nos EUA, o uso da bicicleta cresceu de 320 mil em 2010 para 28 milhões em 2016. Na China, onde os congestionamentos em cidades como Pequim são terríveis, a tendência de crescimento foi ainda maior.
Mas estratégias mais ousadas estão surgindo. Estamos assistindo agora ao compartilhamento de bikes sem estação (dockless), onde toda a tecnologia vem acoplada em cada bicicleta, eliminando a necessidade de pontos fixos de embarque e entrega. Quando o ciclista termina sua viagem, ele apenas estaciona, tranca a bike e vai embora, deixando o veículo ali à espera do próximo usuário. Esse mecanismo barateia o sistema (porque estações tem um custo elevado), e o tempo de aluguel pode ser o mesmo, cerca de uma hora de uso.
"É a mobilidade pessoal last-mile (no último grau, em tradução livre)", explica Euwyn Poon, cofundador da Spin, empresa de compartilhamento de bicicletas sem estação.
O sistema dockless seria algo análogo à lógica da internet autônoma, com as bicicletas entendidas como pacotes de dados enviados para onde é necessário, em vez de só funcionarem por acomplamento nas estações.
Essa característica das dockless parece tornar o serviço mais justo: Mike O’Brien, vereador da cidade de Seattle (EUA), observou que o sistema de bicicletas sem estação vem sendo usado por um público mais amplo, em parte porque é mais barato e também porque as bicicletas podem circular fora dos bairros mais ricos do centro.
Que tal ainda mais criatividade e inovação? Veja a próxima fase, que promete chegar em poucos anos: bicicletas elétricas sem estação, com baterias mais baratas e mais leves do que nunca. Uma empresa norte-americana, a Jump Bikes, tem 'e-bikes dockless' personalizadas, projetadas em São Francisco e Washington. O executivo da empresa, Ryan Rzepecki, acredita que esses veículos terão um apelo muito maior do que o sistema com bicicletas comuns, porque permitiria chegar ao trabalho sem ficar encharcado de suor. "O número de pessoas que estão dispostas a andar de bicicleta elétrica é provavelmente dez vezes maior do que as pessoas que estão dispostas a pedalar numa bicicleta normal", ele acredita.
Claro, essa revolução das compartilhadas tem limites. Provavelmente não funcionará fora das áreas urbanas. E se houver bicicletas demais invadindo uma cidade, como aconteceu na China, os sistemas dockless poderão produzir pilhas caóticas de bicicletas pelas ruas e calçadas. Este no entanto é um problema solucionável, se as cidades decidirem limitar o número das bicicletas sem estação oferecidas.
Então, que venham os carros autônomos, que venham os túneis de hyperloops! Mas, para um mundo que está se urbanizando e aquecendo rapidamente, a melhor tecnologia ainda é sem dúvida a bicicleta.
Ah, o compartilhamento de bicicletas traz também inúmeros benefícios sociais, é importante dizer. Segundo Elliot Fishman, diretor do Instituto de Transporte Sustentável, da Austrália, os benefícios são enormes: a bicicleta alivia a pressão sobre o transporte público, produz baixas emissões em comparação com o automóvel e, pelo menos com bicicletas não elétricas, traz saúde ao fazer a população se exercitar mais (uff!)
O melhor de tudo é que nos faz refletir e perceber que a revolução tecnológica nem sempre, não necessariamente, se dá sobre bases totalmente novas. Pode ser tão ou mais poderoso adaptar uma solução antiga e que funcione bem, incorporando a ela um pouco das novas tecnologias, e assim torná-la melhor. Você realmente não precisa reinventar a roda.
Leia também:
Hyperloop: uma nova forma de transporte?
Bicicletas sem estações chegam a São Paulo
A invasão das bicicletas sem estações
Bikes compartilhadas sem estações fracassam em Paris
Nasa avança rumo à mobilidade urbana aérea do futuro