Aprender a usar a bicicleta é uma prática que se vê nas escolas de cidades como Amsterdã e Copenhague há muito tempo. São atitudes assim que ajudam a reforçar a cultura do ciclismo desde cedo nos países europeus e que formam cidadãos mais ativos.
Na Holanda, o sucesso das magrelas é tão grande que em algumas regiões implementou-se um modelo de bicicleta escolar para substituir os clássicos ônibus amarelos. O 'Bicycle School Bus' pode ser usado por crianças com idades entre 4 e 12 anos, com um assento destinado ao condutor adulto. Funciona assim: oito crianças e o adulto vão pedalando, enquanto dois outros guris descansam, em esquema de revezamento.
No Brasil, por meio do programa Caminho da Escola, criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2007, e do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), já há um financiamento para cidades que investirem em frotas de bicicleta para garantir o acesso dos alunos às escolas. Em Medeiros, município do oeste de Minas Gerais, mais de 90% dos estudantes da rede municipal receberam em 2011 bicicletas e capacetes para ir à escola, segundo dados do MEC. E no centro-sul baiano, escolas públicas do município de Andaraí receberam 350 bicicletas do programa Caminho da Escola, o que ajudou a reduzir o número de faltas e atrasos às aulas.
Rio de Janeiro
Além do aspecto social, estimular a bicicleta na rede pública de ensino pode ainda trazer benefícios econômicos. No estado do Rio de Janeiro, em novembro de 2017, foi sancionada uma lei de estímulo ao uso da bicicleta nas escolas, de autoria do deputado Carlos Minc (PSB). Segundo essa lei, o aluno que realizar o trajeto de casa para a escola e da escola para casa de bicicleta ganha pontos extras em matérias extracurriculares. Trata-se porém, de uma medida de alcance restrito, pois não prevê nenhum incentivo ao aluno para a compra da bicicleta.
Outra iniciativa de âmbito estadual no Rio de Janeiro é o projeto Pedalando da Escola, desenvolvido dentro do programa "Rio - Estado da Bicicleta", da Secretaria de Transportes. Realizado nas escolas da rede pública em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, a proposta é conscientizar tanto professores quanto alunos. São realizadas palestras, pesquisas sobre o uso da bicicleta na comunidade escolar, cursos de capacitação de professores e concursos de projetos. Os projetos, inclusive direcionados a alunos, depois são implantados nas escolas, com entrega de bicicletas aos vencedores.
Custos
Para um cálculo rápido, vamos considerar somente os cerca de 150 mil alunos matriculados entre a 5° e a 9° séries na rede municipal de ensino do Rio de Janeiro. Esses alunos têm direito ao transporte gratuito, que é bancado pela prefeitura. Considerando a tarifa atual (R$ 3,60), tem-se um investimento de cerca de 224 milhões de reais por ano letivo.
Para comparação, modelos básicos de bicicleta custam entre 200 e 300 reais, em lojas de varejo. Kits de proteção para o ciclista e lanternas não passam dos 150 reais. E os gastos de manutenção costumam ficar na faixa de 50 reais por mês. Assim, o custo total ficaria em cerca de 900 reais por ano letivo, por aluno, no caso mais desfavorável.
Já os custos de transporte por ônibus totalizam cerca de 1.500 reais por ano letivo por aluno. Desta forma, a transição para o uso da bicicleta como forma de locomoção traria um ganho financeiro potencial de 90 milhões de reais por ano, somente considerando esses alunos de 5° e 9° séries do ensino fundamental.
Saúde
A bicicleta também pode ser uma aliada na escola para uma melhor qualidade de vida dos jovens. E os benefícios potenciais se estendem à rede pública de saúde. De novo, o melhor exemplo vem do Exterior. Um estudo realizado pela prefeitura da cidade de Helsink, na Finlândia, concluiu que, a cada euro gasto na construção de novas ciclovias, a cidade tem um retorno de 7,80 euros em benefícios associados à saúde.
Vale ressaltar que este é apenas um valor em potencial. Devemos considerar que nem todos os alunos irão querer adotar a bicicleta como modelo de transporte e podemos ter dias em que o clima não contribua. Também existem questões como segurança e condições das vias que devem ser levadas em consideração.
Uma coisa pode-se afirmar: os benefícios da mobilidade ativa são muitos. Além dos acréscimos econômicos, em primeiro lugar temos a comprovada melhoria na saúde das crianças que praticam atividade física. Todos os exemplos tem apontado para a criação de uma cultura do ciclismo. Quando esta realidade tomará um alcance maior no Brasil?
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