A nova organização da rede de ônibus de São Paulo, lançada ontem (24), retira a ligação direta dos 13 principais terminais de ônibus da capital paulista com 41 distritos. Os passageiros afetados terão de trocar de coletivo em locais intermediários para seguir viagem. O levantamento foi feito pelo jornal O Estado de S. Paulo com base nos bancos de dados publicados pela São Paulo Transporte (SPTrans). A licitação resultará em contratos de R$ 67,5 bilhões, por um prazo de 20 anos.
A análise considera os 10 terminais de maior movimento da cidade – João Dias, Bandeira, Varginha, Vila Nova Cachoeirinha, Sacomã, Capelinha, Campo Limpo, Grajaú, Santo Amaro e Parque Dom Pedro II – além das paradas municipais nas Rodoviárias do Tietê, da Barra Funda e do Jabaquara. Esses locais perderão, somados, 115 linhas, passando de 489 para 374. Os ramais passam por 380 bairros – caindo agora para 339. A frota da cidade terá uma redução de 646 veículos, passando dos atuais 13.591 coletivos para 12.945. Já o total de linhas cairá de 1.339 para 1.193.
O processo de mudança só deve começar em junho do ano que vem, com conclusão em junho de 2022.
Entre os grandes terminais, o que terá mais mudanças é o da Rodoviária da Barra Funda, ao lado do Memorial da América Latina. Ali, o total de linhas passará de 25 para 13. Já o total de distritos atendidos cairá de 35 para 25. No Terminal Tietê, o número de bairros atendidos vai passar de 41 para 21.
Baldeações
A sobreposição de linhas, que fazia com que os coletivos “concorressem” por passageiros, é uma das razões da reorganização do sistema, de acordo com a Prefeitura. Segundo a nova lógica, haverá três tipos de serviço: o primeiro, chamado Sistema de Distribuição, fará a ligação entre as ruas dos bairros e o terminal de ônibus mais próximo. O segundo, chamado Sistema de Articulação Regional, ligará esses terminais aos intermediários. Por último, haverá o Sistema Estrutural, que fará a ligação entre os terminais e o centro, pelos corredores. É por isso que as ligações diretas entre os terminais e os bairros serão reduzidas.
A SPTrans afirma que o novo esquema vai resultar em viagens menores e, assim, mais rápidas – o que, no fim, fará com que o tempo total seja menor. Mas não é o que pensam os passageiros.
A estudante Tabata Tesser, de 22 anos, não sabe que alternativa terá para ir e voltar de seu trabalho no Anhangabaú, no centro, para a sua casa na Lapa, zona oeste. Sua linha atual, 178A-10, que ia da Lapa ao Metrô Santana, na zona norte, não existirá mais, segundo o novo modelo. O traçado só está mantido da Barra Funda até a zona norte. “Ouvi alguns passageiros e os cobradores dizendo que poderiam alterar essa linha e ela não seguiria mais até a Lapa. Acho desrespeitoso que os passageiros não sejam consultados antes dessas mudanças”, diz. A Prefeitura promete informar mudanças. “E elas podem até ser revistas”, diz o secretário de Mobilidade e Transportes, João Octaviano.
Parte dos passageiros já pensa, de antemão, em trocar o ônibus pelos trilhos. A operadora de telemarketing Elaine Fernandes, de 31 anos, utiliza ônibus e diz que agora terá de pagar a integração para ir trabalhar no Anhangabaú, no centro. Ela mora no Jardim Jaqueline, zona oeste. “Vou gastar mais dinheiro e demorar mais tempo, porque a baldeação entre as Linhas 3-Vermelha e 4-Amarela é muito lotada no fim da tarde.”
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