Na última segunda-feira (2), a Prefeitura de São Paulo fez o lançamento de seu aplicativo de mobilidade por demanda voltado a taxistas. A medida segue o exemplo da cidade do Rio de Janeiro, e busca criar competitividade e recuperar parte dos passageiros perdidos para empresas como Uber, Cabify e 99. Concorrentes diretos das companhias de táxi, os aplicativos de mobilidade por demanda rapidamente se popularizaram no país, ao simplificar a forma de locomoção pelas cidades.
Mas, se trouxe facilidades, trouxe também consequências nada positivas para o trânsito, tanto aqui como noutros países. Nos EUA, por exemplo, o ex-chefe do Departamento de Transportes de Nova York, Bruce Schaller, pesquisou dados da NYC Taxi & Limousine Commission (a agência responsável pelo controle de táxis e outros veículos de passageiros), entre 2013 e 2017, e notou que as viagens na cidade aumentaram em 15%, mesmo com a queda de viagens dos serviços de táxi. A conclusão é que as responsáveis por esse aumento nos deslocamentos são as companhias Uber e Lyft, as duas que dominam este mercado por lá.
Schaller calcula que o evento trouxe um acréscimo de 960 milhões de quilômetros na distância percorrida por carros de passeio no intervalo de três anos. De acordo com dados da United States Enviromental Protection Agency, de 2014, um automóvel emite cerca de 257g de CO2 a cada quilômetro rodado, com variações conforme o modelo do veículo. O aumento do tráfego, que se deu após a entrada em cena dos apps, resultou então na emissão de 246.600 toneladas de CO2 na atmosfera.
Outras alternativas
A competição, entretanto, não se restringiu aos táxis. O crescimento deste tipo de viagem vem causando prejuízos também ao sistema público de transporte nos EUA. Numa pesquisa conduzida na cidade de Boston com usuários de aplicativos de transporte, 60% dos entrevistados reconheceram que, caso os aplicativos não existissem, teriam evitado utilizar carros de passeio para sua locomoção, e mudado para serviços transporte público e outros.
Em outra pesquisa, conduzida pela Universidade da Califórnia, foram entrevistados 4 mil norte-americanos que costumam utilizar Uber e Lift nos seus deslocamentos. Para eles, se os serviços por aplicativo não existissem, cerca da metade das suas viagens (entre 49% e 61%) não teriam sido feitas com carro, e considerariam outras possibilidades, como a bicicleta, caminhada ou metrô. Ou seja, adotariam meios de viagens ativos e mais benéficos ao ambiente.
Somente no Brasil, a Uber tem cerca de 20 milhões de usuários, segundo o site da empresa, e 530 milhões de corridas em todo o país foram realizadas entre 2014 e 2017, conforme apontado pelo portal de notícias Olhar Digital.
Se for feito um paralelo entre os dados das pesquisas norte-americanas e os dados em solo brasileiro, é possível estimar que cerca de 265 milhões de viagens com carros de passeio foram geradas devido à existência da Uber. Esse número é extremamente expressivo. Caso todas essas viagens tivessem sido realizadas com transporte público, a pé ou por bicicleta, poderia ter sido evitada a emissão de milhares de toneladas de CO2 para a atmosfera.
*Guilherme Pfeffer, 25 anos, é Engenheiro Civil e idealizador do blog City After Mobility, projeto que busca criar mais tempo com a família e amigos através da redução do tempo em que passamos no trânsito. Guilherme vive em Niteroi (RJ) e busca trazer soluções inovadoras para os problemas de mobilidade urbana. Veja mais em www.guilhermepfeffer.com
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