Obstruir ciclovia gera 154 multas por mês em Salvador

Prefeitura multou 1.859 carros estacionados em ciclovias em 2017, 2% do total de multas emitidas no trânsito no período. Falta consciência do motorista, diz especialista

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Fonte: A Tarde  |  Autor: Luana Almeida  |  Postado em: 19 de março de 2018

Motoristas não respeitam a faixa para bicicleta em

Motoristas não respeitam a faixa para bicicleta em Salvador

créditos: Joá Souza/ Ag. A Tarde

Quando optou por fazer o trajeto de casa até o trabalho de bicicleta, o auxiliar de serviços gerais Valnilson Oliveira, de 27 anos, imaginou que reduziria o tempo do percusso habitual em até 20 minutos. Ledo engano. Do bairro de São Gonçalo, onde mora, até o destino final, em Pernambués, ele contabiliza pelo menos cinco paradas para desviar de veículos que estacionam ao longo da ciclofaixa de forma indevida.

 

Este tipo de infração, que não só atrasa o itinerário, mas também o obriga a dividir espaço com veículos de pequeno e grande porte, tem sido recorrente, de acordo com a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador). Nos dois primeiros meses de 2018, o órgão municipal notificou 285 veículos por estacionamento irregular em ciclofaixas.

 

No ano passado, a capital acumulou um total de 1.859 multas pelo mesmo motivo – uma média de 154 notificações por mês. Ainda segundo o órgão, em 2017, a irregularidade correspondeu a 2% do total de multas emitidas no trânsito. Cada infrator identificado foi multado em R$ 195,23, valor estabelecido Código Trânsito Brasileiro (CTB), perdeu cinco pontos na carteira de habilitação e teve o veículo removido.

 

A ciclofaixa por onde Valnilson circula diariamente, a de Pernambués, figura em segundo lugar no ranking dos locais onde as multas desse tipo são mais recorrentes. Antes dela, a menos respeitada pelos motoristas, de acordo com a Transalvador, é a do aeroporto que, em 2017, acumulou 1.112 autuações. Em 2018, neste local, já foram emitidas 165 multas.

 

As situadas no Porto dos Mastros, na Cidade Baixa, e na avenida Antônio Carlos Magalhães (ACM) também apresentaram altos índices de notificações por esta infração. “A ciclofaixa, que deveria ser um espaço mais tranquilo para trafegar, acabou virando um pesadelo para o ciclista. O problema não é apenas o carro estar no espaço que não é dele, mas a possibilidade de ser atingido por outro veículo ao tentar desviar desse obstáculo”, contou Valnilson.

 

O auxiliar de rampa do Aeroporto de Salvador, Carlos Alexandre, de 37 anos, que utiliza a ciclofaixa do local, escapou de um acidente grave na última semana. Ao desviar de um veículo que estacionou de forma indevida na ciclofaixa, ele foi atingido pela porta do carro, aberta pelo motorista no mesmo instante em que ele tentava contorná-lo.

 

“A porta bateu em minha perna e eu me desequilibrei. Por pouco não fui arremessado para cima do carro que passava do lado oposto à ciclovia. Esta não foi a primeira vez que escapei desse tipo. O que sinto é que os motoristas não tem a menor preocupação com o ciclista que está ali, dividindo o espaço com ele no trânsito”, afirmou.

 

Conscientização

A quantidade de multas relativas a este tipo de infração, de acordo com engenheiro e especialista em transporte, Antônio Vasquez, deve ser observada como um alerta para os órgãos de trânsito, sobretudo no que se refere à conscientização dos motoristas quanto aos espaços dedicados aos ciclistas.

 

“O que percebemos, no caso específico de Salvador, é que a multa como forma de ‘educar’ o motorista ainda não é capaz de fazê-lo pensar sobre o papel de cada um no trânsito. Costuma-se dizer que a multa dói no bolso, mas ela não funciona enquanto medida educativa já que a referida ‘dor’ passa assim que o infrator quita esta dívida”, afirmou.

 

Para o especialista, o trabalho de conscientização deve partir da mudança de uma cultura que sempre exaltou o automóvel como único veículo possível no trânsito.

 

“A bicicleta precisa ser vista como um meio de transporte legítimo e oficial, assim como o automóvel. É desse princípio que as campanhas de conscientização devem partir, deste entendimento de que o trânsito é um espaço compartilhado e que exige cuidado e responsabilidade de todos os envolvidos”, disse.

 

Segundo Vasquez, em paralelo às campanhas de conscientização, os órgãos de trânsito devem investir em sinalização para que os ciclistas estejam cada vez mais “visíveis”.

 

Por meio da assessoria de comunicação, a Transalvador informou que realiza “amplo trabalho de conscientização sobre as ciclovias, promovido pelo Movimento Salvador Vai de Bike em conjunto com diferentes órgãos da prefeitura, também com aplicação de ‘multa moral’ aos condutores que infringiam a lei”.

 

Atualmente, a capital baiana conta com 203 km de malha cicloviária. De acordo com a Transalvador, até o final deste ano, Salvador deverá receber mais 40 km deste tipo de equipamento.

 

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