A luta em favor da mobilidade a pé, da mobilidade ativa, é um fenômeno que se espalha e vem somando adeptos por todo o mundo; no Brasil, não é diferente. Em 2016, a professora Thatiana Murillo criou o Caminha Rio, movimento carioca inspirado no Cidadeapé, de São Paulo. "Por uma cidade maravilhosa que dá pé!", é o lema do grupo, que conta com apoio de voluntários para desenvolver suas ações.
Agora, o movimento traz a proposta de criar e divulgar um calendário da mobilidade a pé. Para isso, colocou no ar uma enquete, aberta à participação de todos os interessados, coletivos, organizações sociais e pessoas em geral preocupadas com o tema. "A ideia é formalizar um calendário já com algumas datas estabelecidas e acrescentar outras para dar mais visibilidade ao movimento", explica Thatiana. Eventos locais e campanhas que mencionem a acessibilidade para pessoas com deficiência são contribuições que podem dinamizar muito este calendário, ela defende.
Caminhar no Rio
O Rio é famoso por ser um lugar bom para caminhar. Mas será que essa visão reflete toda a realidade? Para a representante do Caminha Rio, em parte, sim: "Se pensamos no aspecto das belezas naturais e na paisagem, é uma cidade contemplativa, que tem muitas áreas lindas e verdes para quem anda de bike ou caminha". Porém, observa, o problema está em outras áreas da cidade, menos fáceis para transitar: "Tal como acontece em várias cidades brasileiras, com exceção de alguns bairros e pontos que passaram por reformas urbanísticas nos últimos anos, o resto do município apresenta todas as mazelas conhecidas: buracos, falta de faixas, sinalização precária, falta de acessibilidade entre outras 'armadilhas'".
A questão da segurança pública é outro problema que afasta muita gente da caminhada, em áreas que "acabam não sendo aproveitadas como deveriam". "Nas zonas mais periféricas, a falta de segurança é o maior problema. Também constatamos que são bairros menos atendidos pelos órgãos públicos, ou seja, menos conservação, menos sinalização etc.", avalia Thatiana. A conclusão da militante do Caminha Rio é que "a falta de acessibilidade em geral e a falta de real integração entre transportes públicos dificulta, e muito, a vida das pessoas".
Conquistas
Criado em 2016, o Caminha Rio foi idealizado por Thatiana Murillo e Valmir de Souza, do Biomob (app de acessibilidade). Em dois anos, o movimento vem conquistando avanços, conta Thatiana: "Por exemplo, em parceria com a Associação Comercial da Tijuca e com o jornal NaTijuca estamos agindo para melhorar as condições para os pedestres numa das ruas comerciais mais movimentadas do bairro". Outra pequena vitória, ela lembra, foi a ajuda a um grupo do Leblon - o Calçadas Livres - que conseguiu chamar a atenção das autoridades para um problema da zona sul do Rio, onde a população pede intervenções numa rua do bairro. "Estamos aguardando o trâmite", informa.
O Caminha Rio também acompanhou, no ano passado, a discussão sobre a criação do projeto de lei do Estatuto do Pedestre do Rio, ora em tramitação na Câmara. "Apesar de estar parado junto com outros projetos, conseguimos também aí chamar a atenção do poder público para nossas questões. Já é um começo. A militância segue".
Participe da enquete:
Para responder, basta acessar o questionário no site do Caminha Rio
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