Nesta semana o Mobilize Brasil completa seis anos de atividades. O trabalho foi iniciado por Ricky Ribeiro, entre 2009 e 2010, em meio a sua luta contra a esclerose lateral amiotrófica, doença que lhe roubou movimentos e a fala. Mas não sua determinação: Ricky segue trabalhando e orientando nossa atividade cotidiana, comunicando-se por meio de um computador.
O lançamento do portal aconteceu exatamente na semana de mobilidade de 2011, quando o tema ainda era pouco discutido nos meios de comunicação. Ato contínuo, lançamos o Estudo Mobilize 2011, o primeiro estudo brasileiro comparativo sobre mobilidade urbana sustentável.
Ainda em novembro daquele ano realizamos o I Fórum Mobilize, em parceria com Centro de Estudo de Sustentabilidade da FGV. Outros fóruns, várias palestras e trabalhos, além das campanhas Calçadas do Brasil e Sinalize! marcaram nossa trajetória nesses 2.200 dias.
É inegável que tivemos avanços, como mostram os depoimentos de alguns colaboradores, que publicaremos ao longo da semana. Basta uma breve contabilização de ciclovias, sistemas de bicicletas compartilhadas, quilômetros de metrôs, BRTs e VLTs para constatar os ganhos, em várias cidades. É possível também listar os equívocos, atrasos e erros grosseiros em alguns projetos, em todas as regiões do país, incluindos os tópicos da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016.
Cresceu, também, em todo o Brasil, a atividade em defesa do pedestre e da mobilidade a pé, em um movimento que a arquitetura Meli Malatesta batizou como "Ped_ativismo". São dezenas de organizações que atuam para melhorar as condições de circulação das pessoas que queiram simplesmente caminhar. E houve também incrementos importantes da legislação sobre mobilidade e acessibilidade, como lembrou o urbanista Lincoln Paiva.
Sair da bolha
Mas, talvez o avanço mais importante tenha sido a abertura da discussão sobre o tema com a sociedade, com o público, com a mídia de massa. Se continuamos "dentro de uma bolha", como disse certa vez o ativista Daniel Guth, ao menos estamos formando pessoas e lideranças capazes de transformar as cidades nas próximas décadas.
Tudo o que discutimos aqui dia após dia nas páginas do Mobilize já eram conceitos conhecidos há 40 anos pelos técnicos que atuavam em orgãos brasileiros de planejamento, como a Emplasa em São Paulo, ou o Ippuc, de Curitiba. E por que essas ideias não se consolidaram em projetos? Talvez por falta de informação e debate com a sociedade, talvez por interesses eleitoreitos, ou ainda por certa pressão exercida pela cadeia produtiva do automóvel.
Sair do conforto da bolha, sensibilizar a grande imprensa e oferecer opções inteligentes para os nós da mobilidade parece ser o caminho mais promissor a seguir neste momento de crise política e econômica. As obras concretas podem ser simples, como calçadas e pintura de faixas, mas podem operar milagres se associadas à boa informação.
Uma ótima semana da mobilidade a todos. Caminhem, usem bicicletas, transporte público, patins ou carona. Mas, sobretudo, reflitam antes de tirar o carro da garagem.
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