Já virou lugar comum dizer que o cálculo dos custos dos transportes urbanos é uma "caixa preta". Todo aumento de tarifa é seguido de protestos da população e daí surge a tal caixa como alusão à falta de transparência de gestores públicos e dos operadores do sistema de transportes. E fica a pergunta: Afinal, alguém entende como são calculados os custos dessas operações? O cálculo atual é baseado em uma planilha gerada em 1996 pela extinta Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (Geipot) e que, segundo os especialistas, não reflete as mudanças ocorridas no país ao longo desses 20 anos.
Na próxima semana a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) vai lançar uma nova planilha de custos, "mais atualizada e transparente", segundo anunciou em nota o presidente da associação, Ailton Brasiliense. O novo documento foi gerado a partir de um trabalho conjunto entre prefeituras, secretários de mobilidade e representantes dos empresários do setor. Inclui 36 itens com os respectivos pesos na composição dos custos, e especifica a forma de remuneração do concessionário pela prestação do serviço, o que não estava explícito na metodologia antiga. Vamos acompanhar e torcer para não seja uma "caixinha de surpresas".
Ainda sobre ônibus, cabe lembrar que os vereadores de São Paulo estão discutindo um projeto de lei para adiar por vinte anos a adoção de coletivos com motorização de baixo impacto ambiental. A Lei Municipal de Mudanças Climáticas (2009) estabelecia a redução de 30% nas emissões de gases de efeito estufa da capital e previa que até o final de 2018 todos os ônibus da cidade deveriam ser movidos por modos renováveis, não fósseis.
Parece ser um retrocesso. A cidade já conseguira atingir em 2013 o total de 1.846 veículos "ecológicos", mas hoje restam apenas 212 carros movidos por algum tipo de energia limpa. No total, São Paulo tem quase 15 mil ônibus em circulação, que somados aos 4.800 coletivos da Região Metropolitana, mais ônibus de viagem, ônibus fretados, caminhões, vans etc. explicam a densidade do material particulado que andou colorindo o céu da metrópole nas últimas semanas.
Mas atenção: os ônibus não são os vilões. Um estudo recente do Iema indica que os automóveis, que transportam apenas 30% das pessoas, respondem por 71% das emissões de gases de efeito estufa. Enquanto isso, os ônibus emitem 25% dos gases mas levam 70% das pessoas. Lembremos ainda que os carros ocupam 88% do espaço das vias, contra somente 3% usados pelos ônibus. Então, mesmo com o diesel, os busões devem ter a preferência. Se fossem elétricos, por exemplo,mereceriam até aplausos :-)
A essa altura da viagem, a meta para 2018 é inatingível. Mas, conforme levantamento publicado em dossiê do próprio Greenpeace, a transformação de toda a frota seria possível até 2020, bastando que todos os novos ônibus da cidade, onde a renovação é obrigatória, sejam veículos com motores de baixas enissões e combustíveis renováveis. Um bom desafio, e realizável, para o novo prefeito.
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