O número de ciclistas mortos no trânsito da capital paulista aumentou 75% nos primeiros seis meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. A mais recente vítima da violência no trânsito da capital paulista foi o ciclista Reinaldo Aparecido da Silva, do grupo Pedala Itaquera, morto por atropelamento na Radial Leste, na última terça-feira (25).
Segundo dados do Infosiga, ligado ao governo estadual paulista, foram 21 vítimas fatais no primeiro semestre de 2017, contra 12, em 2016. Além deles, houve aumento de 23% nas vítimas fatais em acidentes envolvendo pedestres – de 182 no primeiro semestre de 2016, para 224 neste ano.
Reversão
A situação atual põe fim a uma série lenta, porém contínua, de redução de mortes de ciclistas e pedestres no trânsito da capital paulista, iniciada em 2005. O total de pessoas que se utilizam da mobilidade ativa (bicicleta, skate, pedestres) agora corresponde à metade dos mortos em acidentes fatais na capital paulista – eram 41% do total até o ano passado.
Para o diretor da ONG Ciclocidade, Daniel Guth, não se pode eximir a gestão do prefeito João Doria de responsabilidade por essas mortes. "A prefeitura não pode alegar que isso é um problema de comportamento dos motoristas. Eles se comportam de acordo com a dinâmica da cidade. Essa é uma resposta à ausência de políticas desenvolvidas pelo poder público. Não temos visto políticas reais, sobretudo pensando em quem se locomove de bicicleta. Foi isso que levou a esse aumento de 75% das mortes", afirmou.
Para o ciclista, as medidas tomadas até agora pela gestão Doria foram todas no sentido de valorizar os automóveis, em detrimento dos demais meios de locomoção da população. "Uma cidade que tem como slogan 'Acelera São Paulo', discute a remoção de infraestruturas para ciclistas, diminui o espaço para o transporte público, diminui a fiscalização e tem um prefeito que comemora a diminuição da aplicação de multas, vibra no sentido contrário ao da segurança no trânsito e do cumprimento da legislação", declarou Guth.
Aumento de velocidade
Como indicam os dados, as ocorrências registradas não estão concentradas nas Marginais Pinheiros e Tietê, locais onde houve o aumento no limite da velocidade, mas apontam em maior número para as áreas periféricas da cidade.
Para o diretor da Ciclocidade, é mais uma demonstração de que quanto menos estrutura cicloviária, menos fiscalização e maior velocidade, mais mortes no trânsito a cidade vai ter. "As periferias são os locais com mais ciclistas e menos condições seguras para eles se locomoverem. Por isso concentram mais mortes", destacou Guth. Já as áreas centrais da cidade, com menos registros de acidentes, são onde a maior parte da infraestrutura cicloviária está implantada.
Participação
A Ciclocidade participa do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito (CMTT) da capital paulista. Mas, segundo Guth, o espaço não tem cumprido sua função. "Nossas demandas têm sido ignoradas. Dados estatísticos são sempre contestados, sob justificativa de que usam outra metodologia. É uma disputa de narrativa perversa que não vai produzir nada pela segurança da população". Segundo ele, o poder público deveria reconhecer os dados e produzir respostas.
Outra queixa do cicloativista é quanto à revisão anunciada do Plano Cicloviário da cidade que, segundo Guth, excluiu os ciclistas de participar do processo. Ele diz que, desde então, algumas ciclovias já sofreram intervenções, com apagamento de trechos, e sem qualquer justificativa.
Outra medida considerada "estapafúrdia" pela Ciclocidade é o anúncio feito em abril pelo secretário de Mobilidade e Transportes da gestão Doria, Sérgio Avelleda, de que a prefeitura vai remanejar e trocar algumas ciclovias existentes por ciclorrotas (vias com sinalização especial, mas sem separação entre carros e bicicletas). Para a entidade, essa mudança, onde for adotada, vai colocar usuários em risco.
Contagem
A primeira via que a gestão anunciou que poderia ser extinta foi a ciclovia da Avenida dos Metalúrgicos, em Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade. Avelleda disse que era uma ciclovia "no nada". No entanto, a ONG fez uma contagem no local e registrou 580 ciclistas trafegando pela via, entre 6h e 20h, do dia 22 de junho. Destes, 127 (22%) eram crianças e adolescentes, muitos dos quais estavam desacompanhados de adultos. Outros 39 eram idosos (6%). Ambos os índices são os maiores registrados entre os 400 km de ciclovias da capital paulista.
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