Um projeto de lei que será votado hoje na Câmara de Vereadores de Porto Alegre preocupa ativistas e usuários de bicicletas da capital. Isso porque a proposta, de autoria do vereador João Carlos Nedel (PP), propõe alterações ao Plano Diretor Cicloviário Integrado (PDCI) ao sugerir que a pista de rolamento e a área de estacionamento das vias não seja diminuída em virtude da instalação de ciclovias.
O projeto foi elaborado pelo vereador em 2014. "Não quis votar para ver como seria o andamento das ciclovias. Pelo que estamos vendo, muitas foram feitas sem planejamento", argumenta Nedel, citando a da rua José do Patrocínio, por exemplo, que reduziu a pista destinada a veículos. Para o vereador, a alternativa é alargar as vias, aos moldes do que vem sendo feito na avenida Goethe. "Ou então, se não puder ser alargada e a calçada adequada, que seja feita na calçada", sugere.
O vereador diz que não é contrário às ciclovias (sic) e que tampouco quer acabar com as já existentes, mas que deseja evitar que novas sejam malfeitas. "Trabalhamos pelo bem comum. Temos 1 milhão de veículos circulando diariamente, e mil bicicletas, é um problema seríssimo", explica. Nedel cita, como exemplo, uma ação judicial contra a prefeitura por parte de empresários da rua José de Alencar, que se sentiram lesados e que pedem a retirada da ciclovia, além de uma indenização de R$ 53 mil. "Também tem um restaurante na esquina da Vasco da Gama com a Miguel Tostes que teve redução de 30% nos almoços e 50% à noite. Em um ano, o estabelecimento passou por três proprietários", exemplifica.
Retrocesso
Defensor das ciclovias, o vereador Marcelo Sgarbossa (PT) considera o processo de Nedel um retrocesso. "É uma visão reducionista, que só leva em conta o fluxo dos carros. Nedel não considera a importância da bicicleta no combate à obesidade infantil, na melhora no rendimento escolar, na concepção de uma cidade mais humana", contrapôs.
Caso a proposta seja aprovada, seriam poucos os locais onde as ciclovias poderiam ser implantadas - apenas em vias com calçadas largas, com cerca de nove metros.
Sgarbossa também lembra que o projeto vai contra o Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que incentiva a construção de ciclovias. "Muita gente quer pedalar, mas não se sente segura. Por isso as ciclovias são tão importantes, para que mais pessoas deixem o carro em casa e usem a bike para ir ao trabalho, por exemplo. Dessa forma, toda a cidade sai ganhando, já que cada bicicleta na rua é um carro a menos. É menos poluição no ar, menos congestionamento. Porto Alegre não pode seguir na contramão", conclui.
No entanto, o autor da proposta diz que, segundo especialistas em mobilidade, a ciclovia deve ser usada como uma via coletora para o transporte público, e não como meio de transporte em si. "Pega a bicicleta, vai até o terminal de ônibus, e nele, chega até o centro", ilustra. Nedel citou, também, exemplos de ciclovias que foram projetadas de modo adequado, como a das avenidas Ipiranga, Juscelino Kubitschek de Oliveira e Diário de Notícias.
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