O Recife foi um dos dez municípios brasileiros pré-selecionados para receber, nos próximos meses, uma intervenção urbana visionária e que prevê a harmonia entre todos os ocupantes do espaço público. Trata-se de uma “rua completa”, nivelada com as calçadas, sinalizada, com faixas destinadas a bicicletas e ônibus e com oferta de serviços que convidem pedestres a interagir com a cidade.
A iniciativa é promovida pela WRI Brasil, entidade sem fins lucrativos focada em pesquisa e aplicação de ferramentas voltadas às áreas de clima, florestas e cidades, junto com a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), e foi apresentada no IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável, em Brasília.
Além da capital pernambucana, farão parte do projeto Fortaleza, Salvador, João Pessoa, São Paulo, Campinas (SP), Niterói (RJ), Porto Alegre, Joinville (SC) e Juiz de Fora (MG).
No Recife, a intervenção urbana será coordenada pelo Instituto da Cidade Pelópidas Silveira (ICPS). Conforme João Domingos, presidente do órgão técnico, ligado à Prefeitura, o passo a ser dado agora é a realização de estudos para definir o local em que o projeto será desenvolvido.
“Vamos mostrar, na prática, o quanto essa harmonia entre pedestres, ciclistas e modos motorizados é fundamental. O foco são as pessoas”, avaliou, destacando que se trata de uma proposta que cria espaços de “antecipação do futuro” e que preza pelo desenvolvimento urbano planejado.
A intervenção tem como mérito ir além de imagens ou maquetes. Agora, tudo é em escala real, com paraciclos, bancos de praça e outros mobiliários a serem usufruídos por pedestres e ciclistas. A acessibilidade também tem vez na “rua completa”, por meio de piso tátil e sinalização.
Outra proposta é a implantação de um tráfego “calmo”, como especialistas costumam se referir a zonas de baixa velocidade, geralmente de até 30 km/h, para meios de transporte motorizados. Restrições ao estacionamento também são parte da ideia para tornar a via mais humana e estimular o uso do transporte público e de outros modais. Mas o fator determinante é a promoção de condições para que se exerça a mobilidade a pé.
Pedestres
“O modelo de rua completa varia conforme a via, podendo ou não haver um corredor de ônibus, a redução de velocidades ou a instalação de ciclovias. O que sempre tem de estar presente é a priorização dos pedestres”, comentou a coordenadora de mobilidade urbana e acessibilidade do WRI Brasil, Paula Santos.
O conceito abrange a “walkability”, ou caminhabilidade, ideia que dissemina a necessidade de calçadas não só sem buracos ou obstáculos, mas iluminadas, sinalizadas e atrativas.
As dez cidades selecionadas tinham que ter mais de 250 mil habitantes e contar com prefeituras que demonstrassem disposição de disseminar a ideia para municípios do entorno e capacidade técnica e financeira para executá-la.
Leia também:
Projeto Zona 30 no Recife passa quase despercebido
Ciclistas cobram segurança em dia da inauguração de ciclovia no Recife
Campanha reúne mil 'calçadas ciladas' em duas semanas