Na semana passada, o governo do Estado de São Paulo divulgou pesquisa do Infosiga revelando um aumento de 7% no número de mortos em acidentes de trânsito na capital paulista. Mas, para o especialista em medicina de tráfego Dirceu Rodrigues Alves Júnior, da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), os números "não refletem toda a realidade, pois não mostram as mortes tardias, aquelas que ocorrem nos hospitais após o socorro no local", explica.
Segundo Rodrigues Alves, “os dados do Infosiga contabilizam apenas as mortes ocorridas no local e não somam as mortes tardias, nos hospitais, decorrentes dos acidentes”.
Para o médico, o retrato real desta pesquisa deveria ser bem mais amplo e revelar também as incapacidades temporárias e definitivas que resultam dos acidentes de trânsito. “Não podemos esquecer que os acidentes de trânsito têm custos, os chamados custos médicos, que são cada vez mais elevados”, alerta o diretor da Abramet.
“Muitos acham que o quadro se fecha no local da ocorrência, com o socorro in loco das vítimas, e não consideram as etapas posteriores. Às vezes, temos UTI’s lotadas com vítimas de acidentes de trânsito, não raro por ocorrências que poderiam muito bem ser evitadas”, acrescenta.
O problema da velocidade
Rodrigues defende uma política de acalmamento do trânsito: "A velocidade precisa ser reduzida porque a cinemática do trauma mostra que, quanto maior a velocidade, mais grave são as lesões dos ocupantes."
“A chegada de um politraumatizado do trânsito num pronto-socorro tem custo elevado, que inclui a interrupção do trânsito, assistência pré-hospitalar, transporte terrestre ou aéreo, policiamento e ações dos agentes de trânsito”, revela.
Ele lembra ainda que há estudos científicos demostrando que, entre as causas para os acidentes de trânsito, a alta velocidade é dominante.
É o que mostra um estudo realizado pela Transport Traffic Britânico, que traz a seguinte escalada de gravidade nas consequências da velocidade no trânsito:
- Acidente com veículo a 32 km/h produz 5% de óbitos, 65% de lesionados e 30% de ilesos;
- Acidente com veículo a 48 km/h produz 45% de óbitos, 50% de lesionados e 5% de ilesos;
- Acidente com veículo a 64 km/h leva 85% a óbito e 15% lesionados.
Na opinião do especialista, essa situação é incompatível com a relação do desenvolvimento humano, urbano e de mobilidade nos grandes centros:
“O que vemos são vias comprometidas por falta de manutenção, infraestruturas antigas e mal planejadas que hoje não atendem à demanda. As calçadas e guias deixam os mais frágeis expostos a máquinas extremamente perigosas. São estreitas e irregulares, com desníveis e buracos. Tudo isso compromete aquele que se desloca a pé e que muitas vezes é obrigado a caminhar pelo asfalto”, afirma Rodrigues Alves.
Diante disso tudo, conclui o médico, só há uma saída: “É necessário adotar atitudes drásticas para atingirmos a mobilidade segura”.
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