Depois de quatro dias de palestras, debates, oficinas, festas e até bicicletadas para pessoas com deficiência, terminou neste domingo (23) o Fórum Mundial da Bicicleta. Esta sexta edição foi realizada na Cidade do México e contou com delegações de vários continentes e Conferências Magistrais de Cinthia Echave (Espanha), Heinrich Strobenreuther (Berlim, Alemanha) e do ativista norte-americano Chris Carlsson, um dos fundadores do movimento Massa Crítica, em 1992.
Mas, como em anos anteriores, a presença majoritária era mesmo de países americanos aqui do sul. “Embora houvesse representações da Áustria, Rússia, Estados Unidos e de organizações europeias de ciclistas, o Fórum ainda é um evento de caráter latinoamericano”, avalia o ativista Guilherme Tampieri que estava lá representando a União dos Ciclistas do Brasil (UCB) e também o movimento Desvelocidades.
Guilherme tem dúvidas se o Fórum deve e quer ser mundial de fato: “O Fórum no México avançou na discussão da formação de uma rede latinoamericana de ciclistas, que permitiria unir forças na discussão do que tem acontecido em cada um de nossos países. Ele pode e necessita ganhar novos ares, mas sem 'escapar' da América Latina. Um meio de fazer isso seria a criação de um tipo de carta de princípios definindo que a cada x anos (2 ou 3 anos) ele deva ser realizado na América Latina...Acho interessante que o Fórum vá, por exemplo explorar a África, onde a gente ainda não sabe bem como é lá a relação de uso da bicicleta em termos de política pública, mas sabemos que muita gente usa a bicicleta e ela é uma possibilidade de inclusão social, de acesso a lugares mais remotos... De qualquer forma, acho que o evento deve sempre voltar para a América Latina, para estimular as discussões entre nós, ciclistas deste lado do mundo”.
Limitação política
“O Fórum foi um evento grande, e justamente aí vai uma crítica, porque acho que isso pode gerar naquelas pessoas que futuramente queiram organizar outros encontros a sensação de que deve ser sempre assim... Na verdade, acho que poderia tomar outros formatos, mais simples e inclusive mais politicamente ativo. Melhor que resultasse num produto final, por exemplo que questionasse esse modelo de cidade neoliberal que a gente vive, onde os poucos avanços vêm sendo destruídos por grandes retrocessos - como é o caso de São Paulo, do Recife, e mesmo da Rússia, de onde um participante trouxe a informação de que agora por lá as ciclovias estão sendo retiradas. Talvez o Fórum devesse ir na linha de ser mais instrumento político da comunidade ciclística internacional, e menos ‘um Velocity’ como acabou resultando, onde só se vê apresentações de trabalhos. Essa limitação pode ser 'perigosa' para o avanço das políticas da bicicleta”.
Ativismo
Um ponto comum nas discussões dos quatro dias do evento foi a necessidade de articulação da sociedade para a conquista de mais espaço para os modos ativos de mobilidade. Neste ano, explicou Guilherme, havia grupos de vários países que defendiam a caminhada e a corrida como meios de transporte urbano. Essa diversificação também gerou algumas polêmicas, mas ficou claro que as cidades precisam de redes integradas de transportes que permitam a comutação dos modos, a pé, bicicleta, ônibus, trem, metrô, barcas etc.
Inclusão social e políticas públicas
Guilherme Tampieri apresentou o trabalho da UCB e sua influência para a definição das políticas públicas relativas à bicicleta no Brasil e pode debater o tema com o Marcio Deslandes, da Associação de Ciclistas Europeus e com representantes de organizações de ciclistas mexicanos.
Entre outros temas, Guilherme destacou os debates sobre bicicleta e gênero, como a apresentação do estudo realizado pela Ciclocidade, de São Paulo, ou o trabalho Bota pra Rodar, da Ameciclo, que está estimulando o uso da bicicleta por moradores da comunidade “Caranguejo Tabaiares”, de Recife.
Cartaz de atividade para crianças
Telecatch
Uma atividade curiosa foi o Cara a Cara, uma espécie de luta-livre de ideias, em que dois debatedores se enfrentam para discutir pontos quentes da mobilidade urbana sustentável: velocidades, segurança de pedestres, redução de espaços para carros, questões de gênero etc., mas sempre com uma postura de lutador de telecatch. Ao final, lutadores de verdade, mascarados, sobem ao ringue e fazem aquelas performances engraçadas e violentas de mentira. Mas foi o único momento “fake” do 6º Fórum Mundial da Bicicleta. A próxima edição já está marcada para abril de 2018, em Lima, no Peru.
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