Concluída no fim de 2015 a um custo de R$ 14,3 milhões, a ciclovia que corta a Asa Norte, na região central de Brasília, exibe uma série de problemas estruturais e de sinalização. Em uma visita ao local, a reportagem do portal G1 identificou rachaduras, buracos, "degraus" e pouca sinalização nas pistas. O governo do Distrito Federal atribui as falhas ao mau uso da estrutura.
Segundo ciclistas que pedalam na região, as ciclovias têm tantas "armadilhas" que, muitas vezes, é preferível dividir o asfalto com carros e motos, em vias de alta velocidade. O coordenador do projeto Rodas da Paz, Bruno Leite, classifica a situação como um "descaso":
"Muitos buracos e muitas falhas. É um perigo para quem é ciclista. [...] O motorista e os ciclistas muitas vezes não sabem de quem é a preferência nos cruzamentos que, quase sempre não sinalizados”.
Leite diz ainda que já presenciou quase acidentes várias vezes. “Por essa e mais outras, deviam fazer uma grande operação nas ciclovias, como fazem no asfalto: um ‘tapa-buraco’”, sugere.
Erros
Responsável pela manutenção da estrutura, a Novacap reconheceu os problemas, mas afirmou em nota que a culpa é do “sobrepeso de veículos que transitam pela via exclusiva de bicicletas, como carros, motos e até mesmo caminhões”. O órgão também afirmou que toda ciclovia conta com "sinalização horizontal" – termo que define as pinturas feitas na própria pista.
Engenheiro consultado pelo G1, porém, aponta possíveis erros na execução das obras. “Isso é um problema de junta de dilatação. O concreto tem que dilatar, mas o espaço para isso não foi suficiente”, diz o engenheiro civil e professor da UnB José Camapum de Carvalho, ao analisar fotos da ciclovia.
Segundo ele, a explicação fornecida pela Novacap para as falhas no concreto é "absurda", já que um peso adicional não seria suficiente para gerar esse tipo de problema. “Pergunta para eles [Novacap] como que a placa levantaria com um peso. Não faz sentido”, afirma o professor.
Com essa análise em mãos, o G1 voltou a questionar a Novacap sobre os motivos das falhas. Em resposta, o órgão disse que vai enviar um engenheiro do corpo técnico ao local e, se identificar erros na execução, "notificará a empresa responsável para executar o reparo, sem custos para o governo". Essa vistoria também deverá apontar se é preciso instalar placas ao longo da via.
Mais problemas
Além das falhas visíveis encontradas pela reportagem e pelos ciclistas, Carvalho apontou outros pontos que, segundo ele, diminuem a qualidade das ciclovias do DF.
“O maior problema [dessas vias] é que elas são impermeáveis. Em uma cidade que já sofre com enchentes, isso é um absurdo”, afirma.
Ele explicou que o fato de a água não conseguir atravessar a pista sobrecarrega o sistema de drenagem dos locais – o que pode causar, além do impacto ambiental, as já conhecidas enxurradas nas tesourinhas das asas Sul e Norte.
Sobre esse ponto, a Novacap diz que faz a solicitação do licenciamento ambiental antes da realização de qualquer obra e que, em algumas ciclovias, esse documento foi dispensado pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) em razão do baixo impacto da obra.
Rachaduras na ciclovia da Asa Norte, em Brasília. Foto: Wellington Hanna/G1
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