A disputa pela rua: o início da era do carro na cidade americana

Livro do professor Peter Norton detalha a luta desencadeada nos anos 1910 por agentes da indústria automobilística para mudar e ocupar as ruas nos EUA. E depois no mundo inteiro

Capa da publicação

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créditos: Reprodução

Autor: Peter D. Norton

Assunto: Estudos e Pesquisas

Abrangência: Internacional

Ano: 2008


Estados Unidos, na virada do século 19 para o século 20.
Antes do advento do automóvel, as ruas das cidades eram usadas livremente por todas as pessoas, incluindo crianças brincando, vendedores ambulantes e pedestres. 

 

Três décadas depois, em 1930, a maioria das ruas dos EUA haviam se tornado vias de circulação de veículos, proibidas para as crianças e também para os pedestres. Os caminhantes mais resistentes, que insistiam em ocupar as ruas, eram apelidados como "jaywalkers" algo como "caipiras andarilhos", um pejorativo que procurava ridicularizar quem ousasse desobedecer aos tais ventos da modernidade.

 

Essa história, de como as ruas passaram a ser dominadas pelos veículos motorizados, é contada em detalhes no livro "Fighting Traffic: The Dawn of the Motor Age in the American City", do historiador Peter D. Norton, que é professor no Departmento de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Virginia. Em mais de 400 páginas - ainda não traduzidas para o português -  Norton conta em detalhes como os executivos da indústria automobilística planejaram a mudança de uso das ruas para sua tomada pelos veículos motorizados,

 

No texto, Norton explica que, para acomodar os automóveis, as cidades precisavam não apenas uma mudança física, mas também social: assim, antes de alargar as vias, eliminar canteiros e árvores, foi necessário criar uma cultura de que aquele espaço deveria pertencer aos motoristas. Foi uma revolução sangrenta, e às vezes violenta, escreveu Norton.  

No livro ele descreve como os usuários das ruas pedestres, comerciantes e condutores de veículos lutaram entre si para redefinir o uso das ruas.


Ele examinou os documentos desse período de transição nos Estados Unidos, dos anos 1910 a 1930, revelando uma ampla campanha antiautomobilística que insultava os motoristas como “porcos da estrada” ou “demônios da velocidade” e carros como “juggernauts” ou “carros da morte”.  E lembra que pedestres e pais de crianças realizaram campanhas em que clamavam por  “justiça”, enquanto cidades e empresas tentavam regular o tráfego em nome da “eficiência”. 

 

O livro observa as perspectivas de todos os usuários, incluindo pedestres, operadores de bondes, empresas, engenheiros de tráfego (que muitas vezes viam os carros como o problema, não a solução),  promotores de automóveis e policiais, que tiveram que se tornar “policiais de trânsito”.  

 

Em outra frente, os representantes da cadeia produtiva do automóvel procuravam legitimar sua reivindicação de usar as ruas invocando a “liberdade”, a tradicional retórica do poder individual que fez a história dos EUA. 

 

"Fighting Traffic:
The Dawn of the Motor Age in the American City"
Autor: Peter D. Norton
Ano: 2008
Edição: MIT Press Scholarship Online
Para saber (e ler) mais acesse o site da MIT Press


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