Um estudo contratado pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de Pernambuco (Urbana-PE) analisou os fatores que interferem no comportamento da demanda por transporte público por ônibus na Região Metropolitana do Recife (RMR). O trabalho, elaborado por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco, apontou o tempo gasto nos deslocamentos e o valor da tarifa como alguns dos fatores de maior relevância para a redução da quantidade de passageiros transportados.
O trabalho identificou as variáveis que influenciam a escolha pela utilização do transporte público. Investigou também, através de modelos matemáticos, se a influência é positiva ou negativa e qual o nível de intensidade dessa repercussão sobre a demanda.
Foram analisados dados sobre o transporte público e a evolução do uso e a ocupação do solo na RMR de 2007 a 2018, como por exemplo quantidade de passageiros transportados, índice de cumprimento de viagens, tempo médio de viagem, taxa de desemprego, densidade demográfica, frota, quantidade de empresas registradas de todos os setores econômicos na RMR, entre outros. Destaca-se que a ausência de informações disponíveis sobre o uso de aplicativos de transporte sob demanda impediu sua consideração na pesquisa.
Os modelos desenvolvidos indicam que, para cada aumento do tempo médio de viagem de 1%, a demanda se reduz em 0,43%. Já uma elevação do valor da tarifa na ordem de 10% reduz a demanda entre 3,89 e 5,95%.
Os pesquisadores concluíram que, por mais que existam problemas estruturais que afetam os usuários e extrapolam a capacidade de intervenção do poder público municipal e estadual, como desemprego e redução de renda, a solução dos problemas mais relevantes depende de ações e políticas públicas de âmbito local.
O trabalho também apresenta sugestões para superar o quadro de queda de demanda. Entre elas, destacam-se a formulação de um novo modelo de financiamento do transporte público com adoção de fontes de custeio extratarifárias e a elevação da velocidade operacional através do aumento da eficiência do serviço, da ampliação da prioridade do transporte público nas vias e do investimento nos corredores estruturais.
Para Oswaldo Lima Neto, um dos responsáveis pelo trabalho, “é necessário um novo modelo de financiamento dos serviços, no qual o usuário não seja o único a arcar com os custos do transporte, bem como investimentos públicos em infraestrutura, com a radical transformação na prioridade ao transporte público no espaço viário, uma rede flexível mais adequada às transformações da demanda e uma política pública de ajustes finos na relação entre o uso do solo e o transporte”.
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