A situação encontrada pelos autores em todos os bairros da cidade do Recife revelou: calçadas inexistentes; calçadas sem piso ou construídas com material inadequado; calçadas esburacadas, sem manutenção; calçadas com derramamento de esgotos; calçadas com inclinações excessivas, com batentes, degraus e com rebaixamento de meio-fio além do permitido pela legislação.
Toda a estrutura voltada para os pedestres se deteriorou, constata o trabalho. E a cultura do automóvel é, observam, a grande responsável por essa situação degradante, que se intensifica conforme os recursos da cidade passam a se direcionar integralmente para obras de avenidas e viadutos. "Andar a pé no Recife passou a ser atividade das pessoas de menor poder aquisitivo (...), que não decidem os destinos da cidade". Assim, analisam os autores, aumenta a exclusão social e a apropriação da cidade pelos habitantes e turistas.
Nem sempre foi assim, lembram os pesquisadores: "Houve períodos em que as pessoas se locomoviam, de forma quase majoritária, em transporte coletivo ou mesmo a pé. Isso aconteceu até a década de 1960, quando começou a aumentar de forma intensa em nosso país, e em particular no Recife, a frota de veículos motorizados".
Ao realizar este trabalho de fôlego, o objetivo dos autores foi, nas suas palavras, "ajudar, de alguma maneira, a restaurar a justiça e a dignidade nas calçadas do Recife. Para que, assim, possamos almejar uma cidade justa e sustentável, como é o anseio de todos os recifenses, nascidos na cidade ou vindos de outros cantos do planeta".
O livro
Fartamente ilustrado com desenhos e fotos que documentam os diversos problemas encontrados nas calçadas do Recife, a publicação traz também, entremeados no texto, depoimentos de cidadãos que contam suas experiências no caminhar pelas ruas da cidade, além de análises críticas de urbanistas e outros especialistas sobre a mobilidade a pé na cidade.
O primeiro capítulo traz o levantamento feito pelos autores das calçadas em todo o Recife. Em seguida, são apresentados exemplos de boas calçadas nos países vizinhos (Peru, Chile e Colômbia) e no Brasil, para que sirvam de referências às mudanças que espera-se a capital pernambucana venha a receber. O capítulo seguinte aborda a legislação ("Sobram leis e faltam calçadas", onde o problema da falta de vontade política é denunciado). Por último, é apresentado, a título de sugestão, um roteiro para uma calçada cidadã no Recife, com 10 passos: consciência e engajamento; coordenação unificada; complemento da legislação; padrão para as calçadas; cartilha para orientação; controle rígido; fiscalização rigorosa; plano de adaptação à legislação; programa de conscientização; e participação cidadã.