18 de fevereiro de 2016
Editorial
Brasília, enfim, para pessoas?

Caminhar e andar de bicicleta é coisa para valentes em qualquer cidade brasileira. Em Brasília, capital superlativa, o desafio é quilométrico, ciclópico, tarefa para gigantes

Pedestre circula entre carros estacionados e buracos na calçada ocupada. Foto: Uirá Lourenço| Brasília para Pessoas

Máquinas, construções, sistemas de comunicação e de energia só fazem sentido para melhorar a vida humana. Parece óbvio, mas não é bem assim. Brasília, a cidade dos sonhos do urbanismo moderno, é exemplo dessa contradição.

É simbólico que o Brasil tenha uma cidade articulada pelo automóvel como sua capital. O próprio Lúcio Costa, urbanista que desenhou o Plano Piloto, afirmava que a rede geral de circulação na cidade era mesmo baseada no tráfego de carros.

Em um texto dos anos 1960, Costa lembrava que o projeto da cidade estabelecia "tramas autônomas para o trânsito local dos pedestres a fim de garantir-lhes o uso livre do chão, sem contudo levar tal separação a extremos sistemáticos e antinaturais, pois não se deve esquecer que o automóvel, hoje em dia, deixou de ser o inimigo inconciliável do homem, domesticou-se, já faz, por assim dizer, parte da família..."

Ainda na visão do grande urbanista, o carro "só se desumaniza, readquirindo vis-à-vis do pedestre feição ameaçadora e hostil, quando incorporado à massa anônima do tráfego. Há então que separá-lo, mas sem perder de vista que, em determinadas condições e para comodidade recíproca, a coexistência se impõe..." (1)

Se vivo, Costa certamente se assustaria ao ver a sua Brasília tomada por milhares de carros, a ocupar calçadas, gramados e qualquer espaço "livre" que possa funcionar como estacionamento, tal como revelam as fotos publicadas no blog "Brasília para Pessoas", que estreia hoje (18) no Mobilize.

Os textos do novo blog são assinados por Paulinha Pedestre e Uirá Lourenço, dois estudiosos ativíssimos nas artes de caminhar e equilibrar-se em bicicletas pelas pistas brasilienses. Falam de calçadas esburacadas, ciclovias descontínuas, transporte público deficiente, mas sempre numa perspectiva de ajudar a cidadania a reencontrar o sonho de Lúcio Costa.

Ele imaginava uma cidade democrática, igualitária, sem muros ou cercas, onde pessoas de todas as origens pudessem conviver nos mesmos espaços públicos. Brasília tem essa vocação e pode dar um bom exemplo para o mundo. 


Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil 

(1)COSTA, Lúcio. Registro de uma Vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1997.

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