Caminhar ou pedalar pela cidade pode ser tão importante como uma aula de matemática ou história
Em uma entrevista, alguns anos atrás, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha afirmou que "uma criança que vá e volte todos os dias à escola de carro, sem ter contato com as ruas, não está indo a escola alguma". Paulo Mendes, que é um dos dois brasileiros laureados com o Prêmio Pritzker, queria dizer que a experiência de caminhar, ver a cidade com suas belezas e tristezas, andar de ônibus e conviver com as pessoas e talvez encontrar o imprevisível, tudo isso constitui um aprendizado fundamental para a formação de cidadãos. Tanto quanto as aulas de matemática, ciências ou história.
E nesta quarta-feira (7) cidades dos Estados Unidos, Canadá, Austrália e de vários países da Europa celebraram o Dia Internacional do Caminhar à Escola. A dica nos foi dada por Irene Quintáns, do blog Passos e Espaços. Mais do que uma efeméride, a data pede a criação de "projetos de caminho escolar", rotas protegidas, para que as crianças possam se mover com segurança e autonomia pelas ruas, praticando a mobilidade urbana ativa, a pé ou de bicicleta. Ações como estas ainda são raras no Brasil, mas em seu post, Irene destacou a experiência realizada no bairro de Paraisópolis, em São Paulo, envolvendo motoristas, motociclistas, pedestres, adultos e crianças.
Crianças são também o coração do projeto Bike Kids (foto), criado pela organização Bike Tour SP. Trata-se de um triciclo a pedal dotado de um compartimento para levar até dez crianças em passeios educativos pela cidade. A novidade será inaugurada no dia 12, no centro paulistano, mas deve continuar em circulação por outros bairros da cidade. Vamos acompanhar...
Ainda de São Paulo, Mila Guedes descreve as barreiras que enfrentou com a sua scooter "Julinha" para percorrer as esburacadas calçadas e calçadões do centro da cidade. Mas, apesar dos solavancos e sustos, a blogueira do Milalá conta que a expedição rendeu boas e curiosas descobertas para pessoas com mobilidade reduzida.
Difícil é atravessar as ruas, porque os tempos dos semáforos são muito curtos, como revelou a pesquisa da Cidadeapé em alguns cruzamentos da capital paulista. O problema é que em vários locais a luz verde dura apenas 5 segundos, seguindo-se 10 segundos de luz vermelha piscante, o que obriga o pedestre a correr, sem saber quanto tempo ainda terá para chegar até o outro lado. Como sugere a organização, o tempo de travessia para pedestres tem que ser repensado. E em todo o Brasil, senhores prefeitos...
Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil