Cidades lutam para mudar seus modos de mobilidade e recuperar os espaços urbanos como locais de convívio. Um bom exemplo vem de uma cidade paulista
Nesta quarta-feira (16) participamos do 1º Semob, em Itapetininga, no interior do Estado de São Paulo. O evento foi organizado pela Secretaria de Trânsito e Cidadania da cidade, hoje com quase 150 mil habitantes e cerca de um veículo motorizado para cada dois habitantes (!), segundo a secretária Samira Albuquerque, que articulou o encontro.
A frota de veículos cresceu de forma explosiva - 44%nos últimos cinco anos -, com destaque para as motocicletas, que se tornaram um gatilho decisivo para o aumento de acidentes. São 7 ou 8 acidentes com motos todos os dias, o que tem elevado a ocupação dos leitos hospitalares. "Hoje, 2/3 dos leitos são destinados a acidentados no trânsito", revelou Samira.
O aumento da frota também é visível na altíssima de ocupação das vagas de estacionamento nas ruas centrais, estreitas e com trânsito bastante intenso.
A situação de Itapetininga repete-se em centenas de cidades médias e pequenas de todas as regiões do país, mas a cidade paulista destaca-se pela tomada de decisão da gestão municipal em mudar a cultura de mobilidade de sua comunidade.
No encontro, Samira Albuquerque anunciou a criação do Programa Calçada Cidadã, para renovar as calçadas das ruas centrais e implantar calçadas nas vias periféricas. A ideia é desenvolver um manual de calçadas, indicar os materiais mais adequados, treinar mão de obra, para formar profissionais calceteiros e estimular os cidadãos a cuidarem dos trechos de passeio à frente de seus imóveis.
Faixas exclusivas de ônibus e a implantação de parklets também estão nos planos de Itapetininga, como forma de demonstrar usos mais nobres para os espaços que hoje são usados quase exclusivamente para os carros e motos.
Além disso, a Secretaria iniciou um ambicioso programa de educação de trânsito voltado aos motoristas, mas também a crianças e adolescentes, com apoio da guarda municipal e do corpo de bombeiros. O conceito geral é estimular o respeito a ciclistas e pedestres, especialmente às pessoas com mobilidade reduzida. "É um plano para oito ou dez anos, mas nós queremos começar já para que os cidadãos assumam o protagonismo nessas mudanças", comentou a secretária ao final do encontro.
Milhares de quilômetros ao norte, essas novas formas de usar as cidades puderam ser experimentadas na Dinamarca por Silvia Cruz e Mari V., que deixaram suas experiências registradas no blog Mobilize Europa. Elas correram e pedalaram mais de 200 km até chegar em Copenhague, onde participaram de um seminário acadêmico. No blog, Sílvia e Mari contam que "a cidade oferece ótimas condições para a mobilidade a pé, com calçadas em bom estado, ciclos semafóricos compatíveis com os fluxos a pé e boa iluminação dos espaços urbanos, além de sinalização acessível e eficaz.
A capital da Dinamarca começou a tirar os carros do centro e substituí-los por bicicletas públicas já nos anos 1990, e de lá esse movimento se espalhou pela Europa e mundo afora, em uma corrente que nos anos 2000 foi apelidada de "Copenhagenization". E tudo começou com um sonho de uma pessoa e sua decisão de recuperar a cidade para a vida comunitária. Tal como Samira, em Itapetininga. Esperamos que o exemplo da cidade paulista também se torne uma corrente positiva de mudança em sua região.
Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil