Corredores de ônibus (BRTs) e bondes modernos (VLTs) são considerados sistemas de transporte de média capacidade. Operam na faixa de 10 mil a 40 mil passageiros por hora em cada sentido e, desta forma, servem muito bem como estruturadores do transporte público em cidades médias, com população de 300 mil, no máximo 500 mil habitantes. A curto prazo, os sistemas com ônibus são mais baratos, enquanto os bondes elétricos envolvem investimentos bem mais elevados, porém com a vantagem de maior durabilidade, acima de 50 anos. Além disso, os BRTs exigem largas faixas de tráfego, gerando maior impacto ao meio urbano.
É o caso de Feira de Santana, na Bahia, que está implantando um desses corredores de ônibus, com cerca de 10 km de extensão a um custo de 87 milhões de reais. A obra parou em julho passado porque a Justiça considerou que o sistema não iria atender à população carente da cidade e, em especial, porque a construção dos corredores exigirá o corte de dezenas de árvores de grande valor afetivo e ambiental para a cidade. Derrubada a ação judicial, os trabalhos enfrentam agora a mobilização de ativistas que decidiram acampar sob a área arborizada para evitar a remoção do patrimônio vegetal.
O episódio de Feira tem se repetido às dúzias, em várias cidades do país, e aponta para um dilema que todos teremos que enfrentar nos próximos anos. Como melhorar a circulação das pessoas e cargas sem que para isso seja necessário rasgar as cidades com grandes corredores de tráfego? Não estaríamos repetindo - em outra escala - o mesmo erro que sacrificou os espaços de convívio para a construção das vias expressas para automóveis?
A resposta passa certamente por um planejamento cuidadoso que inclua um amplo diálogo com a sociedade antes de iniciar qualquer obra urbana. Enquanto isso - porque esse processo de negociação é sempre demorado -, um caminho alternativo talvez esteja na melhoria da mobilidade ativa ou "micromobilidade", em uma série de ações que permitam às pessoas circular mais a pé e de bicicleta. A receita é simples: reformar e alargar as calçadas, melhorar as faixas e tempos de travessia dos pedestres, priorizar a sinalização para quem caminha ou circula em cadeiras de rodas.
Para os ciclistas, os exemplos estão disponíveis no Brasil e pelo mundo afora: criar ciclorrotas, ciclofaixas e ciclovias, melhorar a sinalização para a bicicleta e estimular a integração entre o sistema cicloviário e os terminais de transportes, com bicicletários e estações de bicicletas compartilhadas.
Por fim, mas não menos importante, quando for possível, reduzir a velocidade do tráfego motorizado e desenvolver campanhas permanentes de educação para o trânsito.
São intervenções simples e de baixo custo relativo. Um metro quadrado de calçada, por exemplo, custa cerca de cem reais, muito menos do que o pesado pavimento de concreto necessário para um BRT. Mas, com essas intervenções leves vai ser possível estimular que as pequenas viagens de até 1 km para a escola, o mercado ou a academia de ginástica possam ser feitas a pé, com segurança e conforto. E trajetos um pouco mais longos, de 2 a 3 km, podem ser feitos de bike. Com isso, pode-se obter um certo desafogo no transporte público e até no tráfego de automóveis.
A propósito, aproveite o final de semana, caminhe, pedale e fotografe a mobilidade urbana em sua cidade. Depois, inscreva-se no concurso #ClickMobilidade. Mas atenção, o prazo termina na terça-feira, dia 15 de setembro.
Ilustração: capima.com.br
Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil