Ciclistas e pedestres ainda são ignorados no trânsito selvagem
Desde julho passado, em Pernambuco, as provas para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) estão avaliando o preparo do candidato a motorista para se relacionar com ciclistas. O teste simplesmente verifica se os futuros condutores mantêm a distância mínima de 1,5 metro na ultrapassagem de bicicletas, tal como prevê o Código de Trânsito Brasileiro.
Passado um mês, o Detran-PE constatou que, apesar de campanhas e intenso treinamento, nem mesmo os instrutores incorporaram essa norma no treinamento de seus alunos. Resultado: mais de 9% dos candidatos foram reprovados por não respeitar essa regra básica de segurança.
Parcela importante dos motoristas brasileiros ainda acredita firmemente que deve ter preferência sobre tudo o mais que circula pelas ruas - ciclistas, pedestres etc.-, embora a lei diga o contrário.Também é muito comum ver carros, caminhões, ônibus e motocicletas circulando a velocidades bem acima à regulamentada pela sinalização, mesmo em locais próximos a escolas, centros de comércio, hospitais e outros pontos de grande movimento.
Explica-se, assim, a infindável polêmica sobre a implantação de faixas exclusivas de ônibus e de ciclovias e, mais recentemente, a redução de velocidade do tráfego nas cidades, como mostra o caloroso debate sobre o artigo A lógica das Marginais, de Marcelo Blumenfeld, pesquisador brasileiro que atua na Inglaterra.
A própósito, Londres, a capital britânica, começou a reduzir a velocidade em 1/4 de suas vias principais entre 2008 e 2009. Lá, o limite é de apenas 32 km/h. Os resultados dessa desaceleração já aparecem nas estatísticas e revelam uma queda de 40% de mortes e ferimentos em acidentes de trânsito na cidade.
Da Europa chegam também duas noticias sobre o uso de veículos a pedal para o transporte de cargas nas cidades. Em outubro, a Federação Europeia de Logística com Bicicletas realiza uma conferência em San Sebastian (Espanha) para discutir incentivos em design e fabricação de bicicletas cargueiras, além de apresentar exemplos de grandes empresas que adotaram soluções de transporte ativo em suas entregas. Caso exemplar é o modelo de quadriciclo desenvolvido pela DHL em parceria com um fabricante holandês de bikes cargueiras.
São boas práticas, talvez inspiradoras de melhorias para o cotidiano de milhares de trabalhadores do pedal que circulam - quase invisíveis - pelas ruas e novas ciclovias do Brasil. Eles levam pães, jornais, bebidas, gelo e até colchões king-size, como registrou o ativista Zé Lobo, lá nas bandas de Copacabana. A eles, nossa homenagem.
Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil