06 de fevereiro de 2015
Editorial
De Amsterdã a Floripa, a 20 km/h

Hoje vamos devagar. Amsterdã, capital mundial da bicicleta, circula à velocidade média de 20 km por hora, avisa Guilherme Tampieri, atual condutor do blog Mobilize Europa. Carros, ônibus, VLTs (trams) e as milhares de bicicletas que ocupam as ruas centrais da cidade andam devagar, com calma, para permitir que as pessoas possam caminhar, conversar e conviver entre as ruas e canais que fazem aquele peculiar centro histórico. Guilherme explica que na busca por preservar esse movimento de "desvelocidade", Amsterdã vem investindo nos espaços compartilhados com duas bases concentuais:

- A velocidade máxima permitida nesses locais é baixa e igual para todos os modos de transporte, inclusive as bikes;

- Não há vias separadas para cada tipo de transporte, possibilitando que as pessoas que andam a pé possam se deslocar por qualquer lugar para além das calçadas. Tudo com muita segurança.

Outra blogueira, a arquiteta Meli Malatesta, do Pé de Igualdade, mostra em detalhes porque os brasileiros têm uma certa sensação de insegurança quando atravessam uma rua, mesmo onde existem faixas de pedestres e semáforos. Os tempos de travessia não são bem calculados, explica Meli, obrigando àquelas corridinhas para alcançar o outro lado da via ou - quando  existem - as ilhas centrais. O resultado é que as pessoas acabam não respeitando nem faixa nem semáforo.

Não por acaso, um relatório do Ministério da Saúde revela a morte de crianças brasileiras em atropelamentos na proximidades das escolas. São mais de 600 crianças mortas a cada ano em vários tipos de acidentes, às vezes na travessia da rua logo depois de desembarcar dos carros de seus pais. Uma proposta óbvia seria restringir a circulação de carros nas proximidades das escolas e reduzir a velocidade para o máximo de 20 km/h nesses locais, tal como fizeram os holandeses lá no final dos anos 1970.

Algumas boas notícias: a UCB (União dos Ciclistas do Brasil) acaba de lançar uma campanha para divulgar as cidades brasileiras amigas da bicicleta. Os formulários do (Ramc) Ranking das Administrações Municipais Cicloamigas já estão publicados no site da UCB e podem ser  obtidos por qualquer pessoa que queira avaliar a situação de sua cidade.

Entre elas, devem estar localidades como Curitiba, Sorocaba (SP), Toledo (PR), Rio Branco, Praia Grande (SP), Rio de Janeiro, Brasília, Montenegro (RS) e São Paulo, entre várias outras que já fizeram ou estão construindo redes cicloviárias urbanas. Mas, não adianta apenas implantar ciclovias, avisa Márcia Grosbaum, em entrevista ao Mobilidade Sampa. Comentando a situação de São Paulo, a urbanista defende a necessidade de que as prefeituras estimulem as pessoas a usar a rede cicloviária e também os novos corredores de ônibus. Márcia avalia que as pessoas deveriam "deixar o carro em casa, aproveitar este momento de melhoria dos sistemas de ônibus e bicicleta, e experimentar esses meios de transporte". O conselho obviamente vale para qualquer cidade que já esteja preparando seu plano diretor de mobilidade urbana.

É o caso da capital catarinense, que acaba de concluir o Plamus - Plano de Mobilidade Urbana Sustentável para a Grande Florianópolis. O estudo mostrou que em Floripa 48% das viagens diárias são feitas com carros particulares, um índice muito acima da média nacional, com graves repercussões em congestionamentos diários e mortes no trânsito. Agora, com a abertura das discussões, caberá à sociedade definir quais modos de transporte devem ser privilegiados. Na próxima semana voltaremos ao tema.

Hoje também divulgamos o Relatório de Atividades 2014 do Mobilize Brasil. O documento resume as principais atividades realizadas pelo portal durante o ano passado.

Marcos de Sousa

Editor do Mobilize Brasil

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